
Telhados de Lisboa, de Luisa Caetano.
Homenagem dos Grupos Artforum Mundi Planet &
Artforum Brasil XXI à Poeta e Pintora Luiza Caetano de Lisboa/Portugal.
CANTO A LISBOA"
Lisboa
se vestiu de Rio, languidamente
sensual! tortuosa! brilhante!
Bate o Sol na Mouraria
faz sombra no Bairro Alto,
porque a festa é no Rossio!
Lisboa se vestiu de Rio
na franja do frio
dos embandeirados
barcos no Tejo.
há fumos! há cheiros na brisa
perfumes de namorados
Lisboa,
Coberta de luzes
qual manto de lantejoulas
na Rua do Capelão
Marinheiros soltam amarras
e as varinas o pregão
juntamente... os seus amores
Tomando café na Ribeira
entre um buquê de flores,
Lisboa chora!
Lisboa canta !
Lisboa Ri!
se esfuma no canto do Rio
comendo castanhas assadas
em cada final do dia,
Lisboa de mãos-dadas
apaixonadamente!
luizacaetano
06/09/07
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
" O SOL DA MINHA TELA"
Guardei
um
Sol
para ti
que és
a minha pessoa errada...
Um horizonte!
Uma fonte!
Um Monte!
Um Céu! Uma nuvem!
Um sonho feito de nada...
Guardei
um SOL
para ti
Uma Ilha!
Um Continente!
uma saudade
latente
Pintada
em cada cor!
Em minhas mãos
uma aliança
e a minha jura sagrada
Tudo, tudo Meu Amor!
Tudo feito de quase nada...
luizacaetano22/09/2006
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Almas Gêmeas, de Luiza Caetano
"POEMAS"
Na serena
gaveta do poeta,
a serpente erguida
em armada espoleta.
Toque de pedra!
Roçar de gato!
Ardósia riscada
Letras pressentidas
Jogo de palavras!
Violadas! Batidas!
Riso!
Risco!
ou
Ritual
O gato mia !
A gaveta chia!
A bofetada sofre !
A palavra liberta
da serpente o veneno!
O poeta chora
falivelmente pequeno.
luizacaetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
" O R G I A S "
Entrar dentro de ti
como no mar,
Mergulhar-te
como se fosse a primeira vez,
viajar ao paraíso das algas!
dançar nas ondas !
ferir-me nas rochas!
no odor dos sargaços!
Depois...
da noite do dia,
da orgia dos cansaços
me estenderei no fundo
do fundo mais profundo
de ti e de mim
e
beliscarei a vida.
Luiza Caetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

E foram muito felizes, de Luiza Caetano
"LIBERDADE"
Gritar é proíbido?
Façamos então um esgar
um silencioso movimento
na tortura desse momento...
Deixa o nó se desatar,
como o vôo da borboleta
- também podemos voar...
Não me amordaçes o grito
de nervos libertos e gozo
- o céu é o infinito !
Espera-nos o areal,
uma cama de vento e de sal,
um vendaval de emoção,
- Um cristal em cada mão!
luizacaetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
UMA GOTA DE ORVALHO"
Se
eu roubar âs rosas
as suas pétalas
e te vestir de vermelho ritual
num gesto possuído de desejo,
pétala a pétala
pressentida de carmim...
Se eu roubar às rosas
o teu cheiro
numa constelação
de brisa e de ardor
demoradamente
desmembrar a flôr...
Se eu possuir o coração da rosa,
rumor de água a fluir
no interior da madrugada...
Serei como um pássaro a emergir
ou
uma gota de orvalho
no céu do teu corpo
luizacaetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
POEMA PARA UM MENINO DA GUERRA"
Menino-homem,
que trazes ruído de guerras
no olhar parado,
que trazes nos gestos cansados,
nesses gestos de menino-velho
patéticas imagens
de cadáveres bradando sangue
no verde dos teus caminhos!
Menino-homem,
tu
que acordaste espantado
no meio dum tempo que te roubou a idade,
Tu,
que acordaste homem
de mãos crispadas numa metralhadora!
Tu,
que nasceste roubado de tudo...
- até dos infinitos de azul
porque riscaram o teu céu
de negras bombas assassinas ?
e te vedaram os horizontes de menino?
Tu,
cujos braços
apenas aprenderam a matar,
Criança
também não sabes!
Também te roubaram
o dom maior do Ser Homem,
O DOM DE AMAR!
Menino - Homem,
como me dói pensar-Te!
luizacaetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Florbela Espanca, de Luiza Caetano
"ACORDEI SONHANDO"
Acordei sonhando
em cima da areia,
o Sol se fôra
estava Lua Cheia,
mãos cheias de nada
brincando com a vida.
Acordei sonhando
que estava perdida!
Era uma Deusa?
ou
uma Bruxa demente?
ou
apenas
Uma condenada
à galé dos sonhos?
Colhi esse instante
de ave ferida
Sim,
acordei sonhando!
- A praia-mar
fora há séculos!
luizacaetano
25/08/07
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
..
"LEMBRANÇAS DE ONTEM"
T`espero na Quinta Feira
lá na esquina das saudades
Vestida de arlequim.
Sexta também estarei
na pracinha dos Afectos
de rosa ansiosa ao peito
Ainda que não apareças
com o trajo de jasmim
Fico na parte da porta
mesmo em frente ao cinema
da Via La Vie en Rose
Negra sala escura
sono, sonho, delícia
e,
depois vamos beber
naquele bar onde a música
toca com dedos de chuva
a magia dos encontros
Muito antes da aurora
marcar o dia de ir
subiremos a Serra Madre
onde a terra cheira
a riso quebrado de sombras
e
os ponteiros nervosos
como navalhas
marcam o tempo
de ir embora
luizacaetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
"À FLOR DA PELE"
Vens breve
como a brisa
quase sempre
à flor do tempo.
Ficas-me no entanto
indelevelmente
à flor da pele...
como pétala de Outono
num gesto de adeus!
ou
um som diáfano
musicado pelo vento!
Vens breve
como os dedos da noite
abandonadamente.
LuizaCaetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Solidão Acompnhada, de Luiza Caetano
"PARA O MAIS LONGE POSSÍVEL"
Entrou na estação do trem. Dirigiu-se à bilheteira tendo ficado a olhar os destinos -de forma alheada, inconsequente.
O empregado da bilheteira, depois de a olhar curiosamente de soslaio esperando ela pedir um destino e, supreso pelo silêncio, lhe perguntou - É para onde?
Sem quase levantar os olhos - ela respondeu: é para o mais longe possível. Não importa!
Pagou o bilhete, guardando o seu destino amarrotado na algibeira . Sentou-se esperando o trem chegar. Lá fora o Outono despedia-se num streap tease de folhas bailadas na nostalgia amarela e castanha da brisa. O trem chegou no meio duma baforada de fumo, anunciando sua chegada com estridência. Sobressaltou-se, caminhando lentamente para a sua carruagem com a sensação de estar subindo para o cadafalso.
Entrou, tendo procurado um lugar junto à janela na ideia de que o filme da paisagem ante seus olhos a distraíssem. O trem que até não ía com muita gente, esganiça seu grito de partida e ela se aconchega esquecida do que estava ali a fazer. Para onde ía! Porque partia!
O xanax, entretanto tomado e o ronronar do combóio a mergulharam num sono esquecido e profundo.. Entre o acordar e o adormecer a sua vida apagou um dia e uma noite. Foi acordada pelo bilheteiro que a abanou - Menina, estamos na Estação Central de Paris. Fim da Linha! Ela abre os olhos espantados e patéticamente distantes. - Paris????
Pega na bagagem (um simples par de jeans, um camisolão, uns ténis, 1 tela, 2 pincéis e 4 tubos de tintas) e sai para as Ruas dessa Cidade Luz olhando espantada , acordando memórias de alguns lugares da sua juventude.
Lembrou-se de um hotelzinho em Saint German des Prés. Apanhou um táxi e deixou-se embalar pelas recordações de Paris! Tinha então 20 anos. As mãos cheias de sonhos, as algibeiras vazias e a alma plena de verdes ilusões. Paris! Paris! era nesse tempo o rio para onde todos corriam em busca da cidade cultura, da boémia, da loucura e do amor.
Chegou ao hotel. Pediu um quarto e subiu no elevador velho. Todos os elevadores dos velhos hotéis de Paris.
Abriu a mala, pegou na tela, nos pincéis e ali mesmo no receptáculo do sabonete, deitou as tintas e atacou a tela de forma alucinante. Pintar o quartier Saint Gérmain des Prés? A sua cabeça era uma janela onde a vertigem se instalava num movimento que queria passar à tela.
Não tinha fome! Não tinha sede. Pintou até adormecer.Caíu num sono profundo só despertado pelo pessoal da limpeza.- Onde estou? Que faço aqui? - ergueu-se e os seus olhos se pregaram à tela. Horror!!
- Parecia um campo minado. O fundo era negro e o vermelho escorria como sangue vivo por toda a tela, fazendo pequenas poças.
- Quem pintou este horror?- Meu Deus, será que fui eu quem pintou isto?
Debaixo do chuveiro numa catarse emocional. Suas lágrimas se juntavam à água corrente! Os soluços rebentavam-lhe o peito. - Vestiu-se. Agarrou a mala e saíu para a rua onde a neblina se fechava sobre a sua cabeça em tons húmidos de cinzentos luminosos.
Finalmente, uma fome voraz a fez sentir-se viva. Tomou o café da manhã. Café leite, pão croissants e mais café. Pagou. Apanhou um táxi para o Aeroporto. Na bilheteira pediu um bilhete para Lisboa.
Quando sobrevoava a Cidade branca de Lisboa, entre lágrimas e angústia, pela primeira vez, Sorriu!
O MAIS LONGE POSSÍVEL, ESTAVA AFINAL DENTRO DELA!
luizacaetano13deNovembro2006
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Homenagem dos Grupos Artforum Mundi Planet
& Artforum Brasil XXI & La Maioson D'Art Garjan
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨