Clarice Lispector
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sábado, 20 de dezembro de 2008
Lançamento e Expô "Tibet no coração do Himalaia"
Convite para o Lançamento do Livro e Exposição
de Fotografias "Tibet no Coração do Himalaia", da
escritora, artista plástica e fotógrafa paulistana
Cláudia Proushan.
Lançamento e Exposição:
Dia
20/12/2008, em São Paulo - SP
Horário
das 11 às 14 horas.
Local
Livraria da Vila - Shopping Cidade Jardim
Avenida Magalhães de Castro, 12.000
Pista Local da Marginal Pinheiros,
entre as pontes Jardim e Morumbi.
(Tel) (11) 3755 5811
=
Brasil, 20 de dezembro de 2008 - sec. XXI
Divulgam esse convite:
Grupos Artforum Mundi Planet & Artforum Brasil XXI
La Maison D'Art - Ana Felix Garjan
=
www.artforumunifuturobrasil.org
.
www.cidadeartesdomundo.com.br
.
www.lamaisondart-anagarjan.com.br
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Homenagem à poetisa Elza Fraga
Nossa homenagem à Poetisa Elza Fraga,
do Rio de Janeiro, que passa a integrar
a Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector
ODE AO UNIVERSO
(Elza Fraga)
Ave
que te quero Terra
florida
sem dores,
sem fome,
sem guerra.
Ave
que te quero Mar
A abraçar
os continentes
levando imponente
a passear
barcaças
nas suas correntes.
Ave
que te quero Ar
puro néctar
incolor a aspirar
e inspirar
pulmão e coração
de um mundo
mais decente.
Ave
que te quero Vida
vivida
para sempre plena
em cada canto
do universo,
armada,
defendida,
blindada
de versos!
TEMPO ESCORRIDO
(Elza Fraga)
O tempo galopa e foge
A vida nem tem sentido
Quando penso que está vindo
O chegar já está partindo.
O dia que vou vivendo
É passado num minuto
O futuro que viria
Invade o dia presente
E o que é
Já era
Quebra a rima
Pula o muro
E se vai, escapa, corre...
Foge vira lembrança
Eta vida que me escapa
E rouba a minha criança
E deixa em seu lugar
Esta mulher de olhar vago
Que nem mesma sei se existe
Perdidamente escondida
---------------------------
Escolhida pra ser triste
TEMPO PERDIDO
(Elza Fraga)
Partiu a menina
Ficou a moleca esquisita
Que nem quer ser mulher
Por medo
Se pudesse
Fincava o pé no caminho
E ficava parada
No meio do nada
Espectadora calada
A espreitar
A esperar
O momento
Certo
De capturar o tempo!
ORAÇÃO PARA ADORMECER
(Elza Fraga)
Todas as noites
antes de dormir
eu peço a Deus:
Senhor me dê sabedoria,
cara sem ruga,
vida sem memória,
livro sem história,
filho sem problema
casa toda limpa
com cheiro de alfazema.
Senhor,
me dê uma varinha de condão
pra consertar o que está
escrito no seu livro
a meu respeito
principalmente aquela parte
onde diz ‘vai doer’.
Senhor, se não puder
por tão grande ser a lista
me dê apenas olho
pra chorar
até secar a alma...
talvez isso baste
traga a calma
após o temporal
e eu adormeça em paz,
dia após dia,
noite após noite,
até o fim dos tempos.
Amém!
VIDA
(Elza Fraga)
Pobre, suja, desonrada,
pelos becos violada
por homens que nem tem rosto.
A dor, o ultraje, o desgosto
se transformam em semente.
Barriga cresce, aparece,
empina, torce, contorce
e espirra mais um ente
pra esta peste de vida...
Chega mais um pra desdita
enquanto o beco anoitece.
Demente canta cantigas
de lembranças esquecidas.
E chora ao tempo que ora
pedindo pra que esteja morto
o seu pobre anjo torto...
Mas os santos, adormecidos,
não ouvem o seu pedido
e então entre detritos
o vagido vira grito
urgência, fome de vida!
Tenta calar com um peito
seco, murcho e inútil veio.
E se consola a bendita
é só mais um nesta lida
com a tarefa maldita
de disputar com os ratos
espaço, teto e comida...
POEMA NOS OLHOS
(Elza Fraga)
Eu tive um poema nos olhos...
Espreitou-me a madrugada inteira.
Se delineou, se enfeitou, me envolveu...
As pressas se rompeu
-torto, não se escreveu!
Eu tive um poema nos olhos...
Absorto, calmo, contemplativo.
Me estreitou
-apertado
como abraço de amigo.
Deitou-se a cama comigo,
comigo adormeceu,
se esparramou, se perdeu,
mas teimoso
ainda assim não se escreveu!
Eu tive um poema nos olhos
que preferiu morar mudo
no fundo dos olhos secos
com pena do mundo!
RUMO AO NADA
(Elza Fraga)
Respiro a escuridão!
Sorvo dela cada gole
trazido pelo vento.
Olho pra frente
e só vejo
o intransponível muro,
parede imensa
feita de escuro.
Não há mais tempo.
Não há mais sorte.
Não há mais nada
nem mesmo morte!
Perdi - à toa -
a chave do futuro!
Não há mais uma condução
um trem, um bonde, um avião
que me transporte
só esta corrente negra
que me arrasta
quando passa
pro nunca mais.
Estaco exangue!
E ainda assim
não há uma só gota
de ódio
no meu sangue.
TERMINAL
(elza Fraga)
A tristeza
hoje,
impertinente,
me fatiou a alma
para sempre
APRESSAMENTO
(Elza Fraga)
Escondo no fio
da navalha
o frio
que a alma cala...
Medo
de desvendar
o segredo
da morte
Ou
Quiçá apressar
a nefanda
tenho fobia
a fila
que não anda
ECONÔMICA
(Elza Fraga)
Sou de palavra pouca
Falo com o olho,
economizo boca.
RELAXA
Para com isso moça
a vida é poça
que se pula
e num segundo
acaba o mundo!
.....................
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Fotos de Clarice Lispector
Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum. É uma lucidez vazia, como explicar? Assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou, por assim dizer, vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo, pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço. Além do que, que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode se tornar o inferno humano - já me aconteceu antes. Pois sei que - em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade - essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.
Clarice Lispector
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Clarice por Clarice
Pedro Karp Vasquez
Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores, ainda que os textos confessionais aqui coligidos possibilitem reveladores vislumbres de sua densa personalidade.
A descoberta do amor
“[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.
Pois juro que a vida é bonita.”
Temperamento impulsivo
“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”
Lúcida em excesso
“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”.
Ideal de vida
“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser.
O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de ‘a protetora dos animais’. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la.
[...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.
É pouco, é muito pouco.”
Escritora, sim; intelectual, não
“Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade.
[...] Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora?
O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.”
A síntese perfeita
“Sou tão misteriosa que não me entendo.”
A certeza do divino
“Através de meus graves erros — que um dia eu talvez os possa mencionar sem me vangloriar deles — é que cheguei a poder amar. Até esta glorificação: eu amo o Nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror, e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascida, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no nada.”
Viver e escrever
“Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranqüila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.”
“Não sei mais escrever, perdi o jeito. Mas já vi muita coisa no mundo. Uma delas, e não das menos dolorosas, é ter visto bocas se abrirem para dizer ou talvez apenas balbuciar, e simplesmente não conseguirem. Então eu quereria às vezes dizer o que elas não puderam falar. Não sei mais escrever, porém o fato literário tornou-se aos poucos tão desimportante para mim que não saber escrever talvez seja exatamente o que me salvará da literatura.
O que é que se tornou importante para mim? No entanto, o que quer que seja, é através da literatura que poderá talvez se manifestar.”
“Até hoje eu por assim dizer não sabia que se pode não escrever. Gradualmente, gradualmente até que de repente a descoberta tímida: quem sabe, também eu já poderia não escrever. Como é infinitamente mais ambicioso. É quase inalcançável”.
A importância da maternidade
“Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”
Viver plenamente
“Eu disse a uma amiga:
— A vida sempre superexigiu de mim.
Ela disse:
— Mas lembre-se de que você também superexige da vida.
Sim.”
Um vislumbre do fim
“Uma vez eu irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria. Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto — serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de ‘dois e dois são quatro’ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou! Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo. Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto...”
Textos extraídos do livro Aprendendo a viver, Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Homenagem à Poetisa Lúcia Gönczy
.
Na Academia de Artes e Poéticas "Clarice Lispector",
nossa homenagem à poetisa Lúcia Gönczy, uma filósofa
da vida, uma poetisa das palavras da alma.
Pro
Funda
Mente
minhas lentes
capturam
tua
imagem
Relutante vens a mim
neste vácuo
contorno metalizado
pós moderno
em olhares surreais
E é como de fora
meus olhos te puxassem
e tuas cores transpusessem
o universo da
paisagem
Quero-te pleno
todo ótica
Quero-te dentro
da utopia e do
desejo
Quero-te rio
límpido
pedra
limo
Quero-te sol
Quero-te lua
Quero-te chuva e
acima de tudo
Quero-te Livre
de todas as maneiras
que a natureza
me conceder
Lúcia Gönczy
Tudo que sinto vem do coração, tudo
numa velocidade como se fosse luz e sai
simplesmente sai pela boca
pelos dedos...
pelas letras...
sinto o que você diz porque sinto o
que você sente
e é quase mais bonito do que ouvir
a sonoridade estupenda do silêncio
intrínseca nas palavras
Lúcia Gönczy
ninguém é totalmente cheio
nem totalmente vazio
cada um é um saquinho
vazio de ar
cheio de projeções
vazio de palavra
cheio de intenções
vazio de som
cheio de silêncios
vazio de promessa
cheio de sonhos
vazio des-vario
cheio de razões
lacunas
frestas
entrelinhas
reticências
tudo cheio
tudo vazio
tudo cheio de vazio
Lúcia Gönczy
motivos não necessitam de motivos
explicações desnecessárias
frente verdades explícitas
escritas no silêncio
gritante
das palavras
noites continuam insones
dias intactos
rotinas solicitam rápidas
mudanças
onde trégua e tempo não existem
e no girar constante redemoinho
a paz perde-se em qualquer beco
escuro
o antes obsoleto torna-se
essencial como ar
de certezas reviradas
nada mais a dizer, nenhum truque nas mangas
todas as cartas foram expostas
se houve blefe, não sei...
- fez parte do jogo
Lúcia Gönczy
nascendo ou morrendo
ele existe
este céu de algodão e fogo
incendiando o horizonte
que é nosso
Lúcia Gönczy
Sístole
por onde ver o sol
se aparei arestas
lacrei as frestas
deixei de viver...
por onde ser lua
lutar por este amor
itinerário como
toda viagem
que prossegue
sem saber
pra onde nem
se vai voltar...
que conversa é essa
pra boi dormir
quando tenho um músculo
involuntariamente
pulsando louco
dentro de mim?
(...)
Lúcia Gönczy
se não te procuro mais
é porque respeito o muro que voce ergueu entre nós
muitas vezes tenho vontade de pular esse muro;
pagar pra ver o que encontro do outro lado...
mas não me atrevo; sinto-me persona non grata
então recuo simplesmente como quem ainda não perdeu tudo
e permaneço com restos de uma certa dignidade
assim sobrevivo por instinto;
e o que não faço é por medo
Lúcia Gönczy
desde o cinza vejo teu semblante nas notícias
minha música toca agora
estou fora de mim e de ti
somente os olhares das gaivotas
quem sabe o que acontece nos mangues
e seus pequeninos caranguejos...
há flores por todos os lados
elas chamam teu nome
e onde perecem as saudades?
não sei ...
talvez aqui dentro
Lúcia Gönczy
íntima implosão dos sentidos
a face oculta desvenda-se; eclode
quando em sono fecho os olhos
e em sonho eu te toco
é o sentir real
cheiro gosto pele pelos
acordar com o aroma
e ter o corpo impregnado
da essência
Lúcia Gönczy
sofro o teu silêncio
aceito tuas costas no meu peito
tomo parte, brinco disso
depois faço a mágica do sumiço
caio no poço da saudade
o que me transformou em pedra
o que me empedrou as lágrimas
o que ressuscitou meu abismo
e vôo sem asas
e me atiro de cara
nenhuma dor, nenhum sangue
só um pouco de mágoa
que curo com outras cicatrizes...
Lúcia Gönczy
poesia
poesia é tocar
o céu da boca
com a língua
possuir a alma
sem abraçar o corpo
beijar com os olhos
a cada encontro
clandestino
poesia é fomentar desejos
fazer fumaça
pegar fogo
virar cinzas
ultrapassar a linha tênue
existente
entre os tempos
de chegadas
e partidas
poesia é ser o ser
do teu ser
mesmo separados
até ficar de vez
entranhada
em tuas vísceras
Lúcia Gönczy
~*
nossos mortos não vestem luto
perambulam pelas ruas
dormem sob viadutos
comem ratos
bebem água de esgoto
nossos mortos não vestem luto
possuem o olhar parado
andam em círculos
não tem família nem amigos
são seres excretados
como as fezes que os vestem
nossos mortos não vestem luto
sobrevivem porque a vida é forte
e embora isso não te diga nada, saiba:
nossos mortos não vestem luto
nossa consciência é depravada
nessa ausência de sentidos
somos nós, alienados...
nossos mortos não vestem luto
nossos mortos estão VIVOS!
Lúcia Gönczy
...
Homenagem à poetisa Rosane Silveira
.
Rosane Silveira recebe nossa homenagem aqui na Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector, através de seus poemas aqui publicados:
Sou ou não sou
Sou ou não sou
não tenho essa de meio termo
de meio tempo
de estiagem, de aparagem
ou sou tempestade ou céu azul
ou sou maresia ou ventania
ou sou mar calmo ou mar bravio
sou densidade e intensidade
leveza e pureza
ou um pesado fardo e profana
não tenho meio termo nem sigo padrões
faço eu mesma minhas próprias previsões.
Sou tudo ou não sou nada
sou poeira ou pó da estrada
sou...sou densa...quente...bravia
perdida...felina...da vida sou amor.
Rosane Silveira
Crucificada pelo amor
Sim, eu sou uma pecadora
daquelas absolutas que reina em si mesmo
Crucifica-me então por amar
por querer sentir a essência da vida
Crucifica-me
por querer mais e mais de tudo
ir até o âmago o fundo
Crucifica-me por querer o gozo pleno
o delírio louco
o amor insano
Crucifica-me por eu ser quem sou
uma fêmea no cio sedenta do néctar da vida
Crucifica-me
mas venha sem pressa
ainda tenho muitos pecados à cometer
quero ter a alma livre antes de morrer
em um último orgasmo.
Rosane Silveira
Fim de caso
Estabeleceu-se então
uma tristeza profunda
entre aqueles amantes
que dizem-se adeus
meio que sem querer
fechou-se o ciclo
encerrou-se os sonhos
ficaram os dois ali
inertes parados
estagnados olhando um
a dor do outro
e pensando se tudo não
poderia ter sido evitado
ficou ali...jogado no chão da tristeza
e nas paredes da imcompreensão
todo amor derramado
depois que perfurado foi o coração.
Rosane Silveira
Dor
Se eu fosse derramar no papel
toda dor sangrenta que aflige minh'alma
deixaria aqui todas as minhas lágrimas
todos os meus sentimentos
todas as minhas sensações e emoções
e tudo o que sou
sairia daqui como um ser inerte
como uma casca,
como um nada
viveria por ai comendo
como louca o pó da estrada
sairia em desparada em busca de
algo que nem sei o quê
ficaria alucinada
flertaria com os manequins
falaria de amor aos postes enamorada
ah meu querido se te falasse
da dor que ora me aflige
seria como se tivesse sendo
açoitada pelo pior algoz
deixaria até me matar
se fosse pra estancar de mim
esse martírio de sentir-me assim
me refiz muitas vezes...
tentei reerguer meu corpo padecido
mas sucumbi-me tantas outras...
sinto-me cansada, tal como flor
despedaçada
e hoje derramo aqui o resto de mim
ficando em mim...o nada.
Rosane Silveira
Labirintos de mim
Vasculhei-me tantas vezes
fiz inúmeras e incontáveis
buscas por mim
que se perdeu de ti
na curva da vida que te levou
deixando o martírio de não mais tê-lo
perdi-me de mim
de ti...da vida
perdi-me
deixei-me então levar pela ilusão
de viver sem ti
eis que apenas sobrevivo
paradigmas a todo instante
são colocados diante de mim
me pondo em provas constantes
da solidão que ora me atormenta
e atordoa
falta-me ar...falta-me
e não sei guiar-me na escuridão
que agora se faz presente
vou caminhando, triste e vacilante
pelos labirintos perdidos de mim.
Rosane Silveira
Sofreguidão de amar
Quando a taça chega ao fim
quando o amor se esvai
chego a duvidar até de mim
se sou eu mesma ou
uma cópia absurda de mim
ou alguém inventado
fico meio que sem saida
temendo a despedida
colho sofregamente
qualquer respingo de amor
seja como for
vou do alfa ao ômega de mim
desfolho-me inteira, me despindo
de minhas besteiras
e peço-te tristemente
que se deixe ficar mais um pouco
ao menos até que minha taça se
encha de novo.
Rosane Silveira
Luz dos olhos teus
Hoje estou assim
sem saber o que fazer de mim
lá fora o mundo gira
aqui dentro a vida pára
dando lugar a inércia do ser
a amplitude da dor
que me incomoda
e atordoa meu tão já
sofrido coração
dor de amor...dor, mais que dor!
Agiganta as horas que passo sem ti
vejo lá fora uma flor se abrir
me convida a ir...sair!
e lá fora quando olho
o mundo todo se perdeu
sabe onde meu querido?
Na luz dos olhos teus.
Rosane Silveira
Só te peço
Guia-me nesse momento de dor
me sustente se eu cair
acolha-me em teus braços
e em um terno abraço me faça dormir
Senta-te bem próximo de mim
me fale de coisas boas e deixe as ruins
sêde porém meu melhor amigo
meu porto seguro meu abrigo
Toca-me como quem toca
em um cristal, hoje quebro
ao menor sinal
Vislumbre um horizonte limpo
e me mostre
até os pássaros cantando
qualquer coisa, não se importe.
Só te peço que me acolha
em teus braços e me faça repousar
nesse dia em que a tristeza insiste
em me acompanhar.
Rosane Silveira
Aconchego
Aconchegue-me junto a ti
minha alma cansada de vagar
por um mundo de ilusões
onde os amores são vãos
aconchegue-me junto a ti
e me fale de coisas boas
da alegria de dançar na chuva
de um lindo por do sol
aconchegue-me junto a ti
e fale manso ao meu ouvido
palavras de amor vindo
do teu coração
aconchegue-me junto a ti
e deixe teu corpo pousar
ao meu lado num abraço
terno depois do amor feito
aconchegue-me junto a ti
nesse encontro único, sereno
pleno de sentimento onde
o amor maior é o fundamento.
aconchegue-te a mim e fique
por pouco ou muito tempo...
mas só te peço aconchegue-te
agora, vem de pressa sem demora.
Rosane Silveira
A promessa
De que em momento algum
meu coraçao fará o teu chorar
a dor do desamor
Em momento algum irei proferir
contra ti palavras de abandono
ou de dor
em momento algum deixarei
rolar uma lágrima de tristeza
nos olhos teus
em momento algum deixarei
voce olhando o mar em total
solidão...
por fim em momento algum
deixarei que teus olhos vislumbrem
um futuro sem mim
a menos que teus olhos queiram
outras aragens e outros caminhos
ai te prometo
que deixarei ir...
mas levará o meu amor contigo
Rosane Silveira
Enamorada
Ah, meu doce amor
quanta brandura há em teus olhos
quanta ternura há em tuas mãos
que me afagam
Doce amor que me embala a alma
quando falas-me de ti com voz doce e mansa
quando olha em meus olhos e
sinto-me como tocada por anjos
amor em demasia, amor que santifica
e que torna passiva até a mais terríveis
das batalhas
é o teu amor, meu amor
amor que me enleva até o mais alto cume
do bem querer
do amor em querer-te
sentir-te
viver-te
e assim eu sigo por ti
enamorada...
Incansável Coração
És um guerreiro,
um nobre cavalheiro
que fortemente se prepara
pra mais uma batalha, caro coração
Estais em vias de entrar em uma guerra
mais uma batalha pela felicidade
veste-te com as armaduras da brandura
e da amabilidade
Carrega junto contigo
todo amor que tiver, será tua arma
vez ou outra use o escudo da autodefesa
mas só bem de vez em quando
Vá pra frente de batalha, abra-te bem
e deixe o oponente - amor entrar
e travar contigo uma guerra de emoções
nem se tente camuflar
caso saia machucado
fique só um pouco de lado,
só o tempo de sarar
pra logo depois uma nova guerra
com mais força você começar.
Rosane Silveira
A pena e eu
A pena com que escrevo
e as palavras que saem desordenadas
estão com pena de meu estado mental
estou agora no descontrole de mim
escrevendo coisas por ai
desabafos a torto e a direito
maquinalmente penso...nem reflito
sequer existo
palavras tolas e vãs
de sentimentos mais tolos
quereres sem querer
amores sem amar
Vida sem sentir, sequer viver
amor, dor...indolor
a inércia de mim me faz assim
até a pena com que escrevo
tem pena de mim.
Rosane Silveira
Alma só
lá fora possíveis gritos de alegria
possíveis palavras de amor
sonhos de alguém que ainda acredita
possíveis paixões arrebatadoras
lá fora música tocando
luzes piscando
pessoas falando
e o mundo girando
lá fora, a solidão não tem espaço
o burburinho da multidão camufla
a dor do abandono
de quem quer que seja
lá fora...lá fora
aqui dentro...morte subita
nos quarenta e cinco do segundo tempo
tudo parou...se consumiu...consumou.
Fim, perda?
não sei...
dor? talvez uma inquietante
lágrima? algumas
sem direito sequer a revanche
perda total, sentimento conturbado
tudo misturado
e uma inquietante solidão que me corrói
enquanto
lá fora...
ah lá fora o meu mundo padece
e esmorece e minha alma se entorpece
de dor, angustia e sensação de abandono
medo...
Rosane Silveira
Deserto de mim
Perdi-me por entre ruas e
vielas de minha solidão
caótica e triste...
arrastei-me até aqui e fiquei
esperando com sofreguidão
um gole do teu amor
um olhar de piedade pra mim
calor escaldante,
sentimento cortante
alma dilacerada,
algumas chagas e dores
e eu aqui...
no deserto árido e quente de mim.
Rosane Silveira
Que...
Que eu me perdoe mil vezes mil
e ainda assim consiga
pecar mais um pouco...
Que eu acalente amores
e até dores e ainda assim
queira amar mais e mais
Que eu não me limite em nada
que ainda assim,
com os percalços da vida
consiga sentir-me feliz
no fim da estrada
pois o fim...não é o fim
quando temos consciência de que
tudo foi feito
em detrimento da felicidade
do outro mas principalmente
em detrimento de nós mesmos
porque o amor é egoista
em sua essência...
Rosane Silveira
Amor que veio pra ficar
No mais profundo do seu ser
ela sabia que seria amada
deixou-se levar pela sua paixão
dando-se tão somente
ás mãos do homem amado
Aquietou sua alma e passou
a ouvir a dele, deu-se, entregou-se
e perdeu-se no amor que sente
vivenciou novos dias
de luz e paz
aquietou-se em si e pensou
daqui não saio nunca mais
tal sentimento de amor vivenciou
plena sentiu-se desfolhando-se
em amor.
Eis o retrato de uma mulher
apaixonada...serena, feliz
e entregue ao amor
de um homem sedutor.
Rosane Silveira
Despedida
E de repente ficou um gosto ruim na boca
as palavras proferidas tristemente
olharam-se pela primeira vez como estranhos
sentiu-se depois do amor meio profana
e ela saiu dali com a sensação de que era suja
Fim de amor, tentativa de reconcilição
quando o cristal quebra
não tem mais solução
Tardou o momento do entendimento
ela ficou olhando ele despido e
acreditou estar vendo uma alucinação
não era aquilo que ela queria não
Nua na cama, tentou vestir-se
porém estava exposta a alma
mais do que o corpo
e ali ficou olhando o nada
encolhida em sua tristeza
Fim de caso, fim de amor
início da dor...da tristeza que
acompanha os amantes
no fim da estrada, depois de tudo
fez-se o nada
e ela ali ficou sozinha
olhando o vazio que a consumia
tentou acreditar que por fim
sobreviveria a dor do amor perdido
numa despedida.
Rosane Silveira
Decência
De todas as besteiras que fiz
só não soube dizer-te adeus
com decência
preferi acreditar na minha demência
de sentir-me amada por ti
apregoei aos quatro cantos
um amor que não existiu
deixei-me levar pelo desengano
da dor massacrante de sentir-te meu
acasalei varias vezes
com os desmandos
de uma tristeza que me consumia
deixando em mim chagas mal curadas
afaguei-te o ego e a alma
desfiz de mim pra te compor
e por fim, disse-me em uma noite
triste do meu amor
tateei no escuro da noite
buscando a minha sanidade
tola discrepancia de quem
ama sem vaidade
pareço ausente de mim hoje
fragmentei-me muitas vezes
tentando compor-te um poema
que me desse um pouco de decência
por fim estou aqui
desfazendo-me em palavras
num último suspiro de amor
onde o que manda é a minha dor.
Rosane Silveira
Não fale
Não fale nada, deixe
que o silencio traduza
todo esse momento
de dor onde tu tentas
desesperadamente
não ferir-me mais
Não fale nada
deixe a inquietante
ausência de paz
aquietar-se nesse momento
Não fale nada
não precisa dizer nada
tudo já foi dito
quando olhei os olhos teus
Não fale, não sinta, não pense...
nem lembre dos momentos meus
que foram teus
Não fale, deixe que a agonia
de perder-te pelo menos
seja decente...não fale...
deixe que o silencio grite
a dor do amor perdido
no vão das palavras não ditas.
Rosane Silveira
Falou-me
Falou-me o amor ao ouvido
disse-me que sofrer é preciso
calar na alma a dor do desamor
e deixar-se um pouco inerte
na alma da vida
falou-me mansamente ao ouvido
o amor e sentenciou-me tal como
um algoz
ao sofrimento triste e voraz
falou-me...
calou-se e
perdeu-se no íntimo de mim
tal amor doído sentido
e perdido de mim
que foi escorrendo pela solidão
tardia e demasiada pra um só sentir.
Rosane Silveira
Fim de caso
Estabeleceu-se então
uma tristeza profunda
entre aqueles amantes
que dizem-se adeus
meio que sem querer
fechou-se o ciclo
encerrou-se os sonhos
ficaram os dois ali
inertes parados
estagnados olhando um
a dor do outro
e pensando se tudo não
poderia ter sido evitado
ficou ali...jogado no chão da tristeza
e nas paredes da imcompreensão
todo amor derramado
depois que perfurado foi o coração.
Rosane Silveira
Labirintos de mim
Vasculhei-me tantas vezes
fiz inúmeras e incontáveis
buscas por mim
que se perdeu de ti
na curva da vida que te levou
deixando o martírio de não mais tê-lo
perdi-me de mim
de ti...da vida
perdi-me
deixei-me então levar pela ilusão
de viver sem ti
eis que apenas sobrevivo
paradigmas a todo instante
são colocados diante de mim
me pondo em provas constantes
da solidão que ora me atormenta
e atordoa
falta-me ar...falta-me
e não sei guiar-me na escuridão
que agora se faz presente
vou caminhando, triste e vacilante
pelos labirintos perdidos de mim.
Rosane Silveira
Gostosura
És gostosura sim,
com todos os predicados
pois tens um coração brando
ainda que machucado
És gostosura sim
Porque trás na alma
o dom do poeta mesmo sem fazer poesia
sente pressa de ser feliz, ama e adora uma anarquia
És gostosura sim
porque tens gentileza no olhar
e principalmente
no falar
És gostosura sim
mas uma gostosura diferente
daquelas que
encanta a toda gente.
Rosane Silveira
Queria...
Queria poder falar
mas um nó na garganta
e um embargo na voz
me cala...
Queria poder gritar
mas meus pulmões apertam-se contraindo
e o meu ar se tornou pouco
quase nenhum
Queria poder chorar
mas lágrimas não brotam de meus olhos
doloridos pela ânsia de desabafar
Queria poder sumir
ou ir até ai
Queria poder gemer
pois meu corpo inteiro
dói pela dor de te perder
Queria poder sangrar
até a morte se preciso fosse
mas tudo oque tenho é uma inércio do ser
Queria poder tudo, queria poder nada
queria...
que...
ria...
a.
Rosane Silveira
Planeta Terra – planeta berra
Ò terra plena de angústia e dor
Porque lamentas ò bela terra
Tanto desamor?
Fostes massacrada
Tristemente humilhada
Despojaram sobre ti restos
E uma dor sem fim
Deram-lhes tapas na cara
Fostes covardemente violentada
Arracaram-lhes os filhos teus
Destroem tudo o que vêem
Disseminam chances de vivência
Por total incoerência
Triste povo que lamenta
O chão em que vive e planta
Triste alma de tormenta
Secam tuas águas
Teus prados verdes viram nada
E teus olhos sobre o mundo se fecha
Em desespero e dor
Teu coração quase parando
Suplica ainda um pouco de amor
Olham-te alguns ternamente
Há esperança ao invés da dor
E em oração pedimos ansiosos
Que por fim todos te auxiliem
Te cuidem e te amem
Ò mãe gentil, ò terra nossa
Planeta de luz, planeta de amor
Gritemos em altos brados o
Amor antes esquecido
Façam-se nascer centelhas de amor
Num planeta
Chamado redenção
nossa Terra nosso chão.
Rosane Silveira
Perder-se também é caminho
Perder-se também é caminho
disse Clarice Lispector tão sabiamente
concordo com ela
nos perdemos sempre todos os dias
em caminhos que pareciam retos
e do nada se tornam tortuosos e pedregosos
achar o caminho de casa se torna necessário
com os pés cansados e as mãos sujas por
tatear muitas vezes em caminhos escuros
enlameados pelos apelos do mal
fazem com que nos sintamos cansados
e desejosos tão só de um canto pra ficar
encostar-se sem ter que se sujar
perder-se também é caminho
encontrar-se pode ser perder-se mais:
perder-se em meio a ilusao de achar ter se encontrado
e quando vê, não se encontrou em nada,
não encontrou nada
está tão perdido no fim...quanto no inicio da estrada.
Rosane Silveira
Criança de rua
Humildemente uma criança passa
invisível aos olhos atentos dos homens
vende balas, doces e sonhos
seus sonhos que se tornaram desenganos
Humildemente uma criança fala
surdamente aos ouvidos dos homens
que não houvem seu pedido de socorro
sua necessidade de conforto
Humildemente uma criança chora
um choro calado, sofrido e desamparado
quase desesperado
sonhando desafortunado por um prato, um amparo
Humildemente vive,
Humildemente uma criança morre
no pé do morro desprovida
de chance de socorro sendo
sendo mais um na estatística
Humildemente vive,
humildemente morre
triste dor dos filhos da terra
triste lamento de um coração que
tão somente espera.
Rosane Silveira
Consumado
E eu, com todo meu amor
me deixei levar
deixei que tuas palavras
me consumissem por inteira
desvenciliei-me de mim
e me dei pra ti
carreguei todos os fardos
de um amor mal-resolvido
entreguei a ti o meu melhor
e todo o meu tormento
de viver só
acreditei nesse amor
de um só sentir
e por fim, no fim
vi, que estava consumado
consumou-se o fim.
Rosane Silveira
Maria velha
(poema em ode a todas as Marias catadoras de papel)
Maria Velha era uma mulher
um tanto estranha
todos os dias ia pela rua
catando papel
suava, cansava, andava
mas não se entristecia
dura vida a vida
de Maria
pelos caminhos da vida
ela ia
com seu carrinho puxando
pelo sol ardente
ela ia toda sorridente
e assim Maria ia
e assim Maria vinha
Maria como tantas outras
que vão pela lida
fazendo sua vida
Ahh Maria Velha
como pode a quimera
de rir-se assim
parece que ri até de mim
Doce exemplo do ser
de gente que sabe viver
Maria velha
Velha de guerra
maria de muitas histórias
e tantas memórias
és tu Maria...
Rosane Silveira
Louca sanidade
Angustia-me hoje e
enlouquece-me
a sensação angustiante
de deixar-te
balbucio palavras surdas
a ouvidos mudos
ando estaticamente pelos cantos
de minha redonda vida
vislumbro hoje uma noite
com sol escandante
amanhã bem sei que o luar
estará lindo pela manhã
Já ouvi dizer que cairá chuvas
de pétalas de rosas
e os jardins estarão floridos
de gotas de chuvas
aquele piano que tu gostavas
todas as cordas arrebentaram
não toca mais as melodias
que teus olhos proferiam
A rua agora está vazia
cheia de gente que não tem
pra onde ir anda de um lado
para o outro de costas
sabe aquele gato que latia
o cachorro miou atrás dele
até que fosse embora...
ahhh como agora o silencio
grita no romper da aurora
e os sonhos que agora sonho
acordada...
você não tem noção
são páginas viradas
de um livro sem letras e sem
páginas
apenas eu e a louca sanidade
escrevem sem sentidos palavras
que mascaram a dor de te perder.
Rosane Silveira
Que eu me perdoe mil vezes mil
e ainda assim consiga
pecar mais um pouco...
Que eu acalente amores
e até dores e ainda assim
queira amar mais e mais
Que eu não me limite em nada
que ainda assim,
com os percalços da vida
consiga sentir-me feliz
no fim da estrada
pois o fim...não é o fim
quando temos coinciência de que
tudo foi feito
em detrimento da felicidade
do outro mas principalmente
em detrimento de nós mesmos
porque o amor é egoista
em sua essência...
Rosane Silveira
Relembrando Clarice - Carta à sua irmã
Nesse mês de dezembro de 2008, na Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector, nós do Artforum Mundi Planet & Artforum Brasil XXI continuamos a homenagear poetisas e pintoras contemporâneas que participam da "Cidade das Artes" e do "Mundo das Artes" - espaços culturais que são desenvolvidas na rede Orkut, desde março de 2007.
E para relembrar Clarice Lispector, registramos aqui um documento precioso, a seguir:
Carta de Clarice Lispector à sua irmã.
A Tania Kaufmann
Berna, 6 janeiro 1948
Minha florzinha,
Recebi sua carta desse estranho Bucsky, datada de 30 de dezembro. Como fiquei contente, minha irmãzinha, com certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida ! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso, nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Nem sei como lhe explicar, querida irmã, minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perder o respeito de si mesma e o respeito de suas próprias necessidades, depois disso fica-se um pouco um trapo.Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar, e contar experiências minhas e de outros. Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Eu mesma não queria contar a você como estou agora, porque achei inútil. Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, ou falta de caráter, um mês antes de irmos para o Brasil, para você estar prevenida. Mas espero de tal forma que no navio ou avião que nos levar de volta eu me transforme instantaneamente na antiga que eu era, que talvez nem fosse necessário contar.
Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi ? assim fiquei eu...., em que pese a dura comparação....Para me adatar (sic) ao que era inadatável (sic), para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus guilhões, cortei em mim a força que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante.Espero que o navio que nos leve de volta, só a idéia de ver você e de retomar um pouco minha vida, que não era maravilhosa mas era uma vida, eu me transformei inteiramente. Mariazinha, mulher do Milton, um dia desses encheu-se de diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora e disse: ou esta calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com uma lasidão de mulher de cinqüenta anos. Tudo isso você não vai ver nem sentir, queira Deus.
Não haveria nem necessidade de lhe dizer, então....Mas não pude deixar de querer lhe mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Minha irmãzinha, ouça meu conselho, ouça meu pedido: respeite mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você – pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita – não copie uma pessoa ideal, copie você mesma – é esse o único meio de viver. Eu tenho tanto medo de que aconteça com você o que aconteceu comigo, pois nós somos parecidas. Juro por Deus que se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia – será punida e irá para um inferno qualquer.
Se é que uma vida morna não será punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que sua vida exige. Parece uma moral amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Espero em Deus que você acredite em mim. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber – pois somente saber de sua presença me transformaria e me daria vida e alegria. Isso seria uma lição para você. Ver o que pode suceder quando se pactuou com a comodidade de alma. Tenha coragem de se transformar, minha querida, de fazer o que você deseja – seja sair nos week-end, seja o que for. Me escreva sem a preocupação de falar coisas neutras – porque como poderíamos fazer bem uma a outra sem esse mínimo de sinceridade ?
Que o ano novo lhe traga todas as felicidades, minha querida. Receba um abraço de muita saudade, de enorme saudade de sua irmã
Clarice.
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Brasil, 5 de dezembro de 2008 - sec XXI
Grupos Artforum Mundi Planet & Artforum Brasil XXI
-ARTFORUM UNIFUTURO - Programa Univertsidade do Futuro "Telhados do Mundo"
-Escola Brasileira de Ecologia Humana "Mandala - Zen"
-Projeto 1ª Antologia "Cartas ao Futuro" de Mulheres Contemporâneas
Autoria e Coordenação: Ana Felix Garjan
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www.cidadeartesdomundo.com.br
ARTE E CULTURA SÃO PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO.
ESTAMOS TRABALHANDO PARA O NOVO MUNDO MELHOR.
www.artforumunifuturobrasil.org
...
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Projeto 1ª Antologia "Cartas ao Futuro" de Mulheres Contemporâneas
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O Projeto Primeira Antologia "Cartas ao Futuro" de Mulheres Contemporâneas, foi divulgado em 10 de outubro de 2008 - XXI, através de mensagens nos perfis de redes sociais e através de mails para artistas plásticos, poetas, escritores, produtores culturais e jornalistas.
O lançamento deste projeto foi também divulgado nos perfís "CIDADE DAS ARTES" E "MUNDO DAS ARTES", que representam os Grupos ARTFORUM MUNDI & ARTFORUM BRASIL XXI que são desenvolvidos no Orkut.
Este projeto será amplamente divulgado em todas as comunidades relacionadas com Arte, Literatura, de Poesia e Escritores, e outros perfis afins, como no Multiply, HI5, e os Grupos Artforum Mundi Planet & Artforum Brasil XXI estão representados desde março de 2007, por Ana Felix Garjan.
O lançamento do Projeto 1ª ANTOLOGIA "CARTAS AO FUTURO" de Mulheres Contemporâneas, cujo Livro Ontológico em primeira versão simplificada, em 2009. A partir daí pretendemos que essa obra venha a ter uma Edição Especial , a partir de parcerias e apoios com organizações culturais e empresas brasileiras, para uma publicação especial na virada da segunda década do século XXI, a partir do ano de 2010-2011, conforme previsão da autora do projeto, Ana Felix Garjan - Grupos Artforum Brasil XXI.
Brasil, 14 de outubro de 2008.
Ana Felix Garjan
Coordenadora do Projeto "Cartas ao Futuro"
Programa Universidade Aberta do Fututo " Telhados do Mundo"
Visite nossos sites e blogs relacionados:
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Estamos desenvolvendo um projeto importante que faz parte do Programa "Novo Mundo Melhor", lançado em Março de 2007, pelos Grupos Artforum Mundi Planet & Artforum Brasil XXI - Programa Universidade Aberta do Futuro "Telhados do Mundo" - 10 anos. Porque pensamos futuro - agora e amanhã.
Temos satisfação em divulgar na Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector, o roteiro do Projeto Primeira Antologia "Cartas ao Futuro" de Mulheres Contemporâneas XXI, que um dia será publicada, a partir das parcerias e apoios, uma vez que se trata de um projeto amplo, uma Antologia terá grande importância para a literatura brasileira e internacional.
Placas do roteiro do Projeto:
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Projeto Primeira Antologia Cartas ao Futuro
de Mulheres Contemporâneas
http://www.lamaisondart-anagarjan.com.br/cf01.htm
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Eixo de Arte e Cultura Artforum Brasil XXI
Representações do Artforum Mundi & Artforum Brasil
no Eixo Minas, Rio e São Paulo.
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Grupos Artforum MundiPlanet
& Artforum Brasil XXI
www.cidadeartesdomundo.com.br
Maison D'Art Ana Felix Garjan
www.lamaisondart-anagarjan.com.br
...
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terça-feira, 30 de setembro de 2008
Homenagem à Poeta e Pintora Luiza Caetano de Portugal
Telhados de Lisboa, de Luisa Caetano.
Homenagem dos Grupos Artforum Mundi Planet &
Artforum Brasil XXI à Poeta e Pintora Luiza Caetano de Lisboa/Portugal.
CANTO A LISBOA"
Lisboa
se vestiu de Rio, languidamente
sensual! tortuosa! brilhante!
Bate o Sol na Mouraria
faz sombra no Bairro Alto,
porque a festa é no Rossio!
Lisboa se vestiu de Rio
na franja do frio
dos embandeirados
barcos no Tejo.
há fumos! há cheiros na brisa
perfumes de namorados
Lisboa,
Coberta de luzes
qual manto de lantejoulas
na Rua do Capelão
Marinheiros soltam amarras
e as varinas o pregão
juntamente... os seus amores
Tomando café na Ribeira
entre um buquê de flores,
Lisboa chora!
Lisboa canta !
Lisboa Ri!
se esfuma no canto do Rio
comendo castanhas assadas
em cada final do dia,
Lisboa de mãos-dadas
apaixonadamente!
luizacaetano
06/09/07
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
" O SOL DA MINHA TELA"
Guardei
um
Sol
para ti
que és
a minha pessoa errada...
Um horizonte!
Uma fonte!
Um Monte!
Um Céu! Uma nuvem!
Um sonho feito de nada...
Guardei
um SOL
para ti
Uma Ilha!
Um Continente!
uma saudade
latente
Pintada
em cada cor!
Em minhas mãos
uma aliança
e a minha jura sagrada
Tudo, tudo Meu Amor!
Tudo feito de quase nada...
luizacaetano22/09/2006
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Almas Gêmeas, de Luiza Caetano
"POEMAS"
Na serena
gaveta do poeta,
a serpente erguida
em armada espoleta.
Toque de pedra!
Roçar de gato!
Ardósia riscada
Letras pressentidas
Jogo de palavras!
Violadas! Batidas!
Riso!
Risco!
ou
Ritual
O gato mia !
A gaveta chia!
A bofetada sofre !
A palavra liberta
da serpente o veneno!
O poeta chora
falivelmente pequeno.
luizacaetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
" O R G I A S "
Entrar dentro de ti
como no mar,
Mergulhar-te
como se fosse a primeira vez,
viajar ao paraíso das algas!
dançar nas ondas !
ferir-me nas rochas!
no odor dos sargaços!
Depois...
da noite do dia,
da orgia dos cansaços
me estenderei no fundo
do fundo mais profundo
de ti e de mim
e
beliscarei a vida.
Luiza Caetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
E foram muito felizes, de Luiza Caetano
"LIBERDADE"
Gritar é proíbido?
Façamos então um esgar
um silencioso movimento
na tortura desse momento...
Deixa o nó se desatar,
como o vôo da borboleta
- também podemos voar...
Não me amordaçes o grito
de nervos libertos e gozo
- o céu é o infinito !
Espera-nos o areal,
uma cama de vento e de sal,
um vendaval de emoção,
- Um cristal em cada mão!
luizacaetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
UMA GOTA DE ORVALHO"
Se
eu roubar âs rosas
as suas pétalas
e te vestir de vermelho ritual
num gesto possuído de desejo,
pétala a pétala
pressentida de carmim...
Se eu roubar às rosas
o teu cheiro
numa constelação
de brisa e de ardor
demoradamente
desmembrar a flôr...
Se eu possuir o coração da rosa,
rumor de água a fluir
no interior da madrugada...
Serei como um pássaro a emergir
ou
uma gota de orvalho
no céu do teu corpo
luizacaetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
POEMA PARA UM MENINO DA GUERRA"
Menino-homem,
que trazes ruído de guerras
no olhar parado,
que trazes nos gestos cansados,
nesses gestos de menino-velho
patéticas imagens
de cadáveres bradando sangue
no verde dos teus caminhos!
Menino-homem,
tu
que acordaste espantado
no meio dum tempo que te roubou a idade,
Tu,
que acordaste homem
de mãos crispadas numa metralhadora!
Tu,
que nasceste roubado de tudo...
- até dos infinitos de azul
porque riscaram o teu céu
de negras bombas assassinas ?
e te vedaram os horizontes de menino?
Tu,
cujos braços
apenas aprenderam a matar,
Criança
também não sabes!
Também te roubaram
o dom maior do Ser Homem,
O DOM DE AMAR!
Menino - Homem,
como me dói pensar-Te!
luizacaetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Florbela Espanca, de Luiza Caetano
"ACORDEI SONHANDO"
Acordei sonhando
em cima da areia,
o Sol se fôra
estava Lua Cheia,
mãos cheias de nada
brincando com a vida.
Acordei sonhando
que estava perdida!
Era uma Deusa?
ou
uma Bruxa demente?
ou
apenas
Uma condenada
à galé dos sonhos?
Colhi esse instante
de ave ferida
Sim,
acordei sonhando!
- A praia-mar
fora há séculos!
luizacaetano
25/08/07
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
..
"LEMBRANÇAS DE ONTEM"
T`espero na Quinta Feira
lá na esquina das saudades
Vestida de arlequim.
Sexta também estarei
na pracinha dos Afectos
de rosa ansiosa ao peito
Ainda que não apareças
com o trajo de jasmim
Fico na parte da porta
mesmo em frente ao cinema
da Via La Vie en Rose
Negra sala escura
sono, sonho, delícia
e,
depois vamos beber
naquele bar onde a música
toca com dedos de chuva
a magia dos encontros
Muito antes da aurora
marcar o dia de ir
subiremos a Serra Madre
onde a terra cheira
a riso quebrado de sombras
e
os ponteiros nervosos
como navalhas
marcam o tempo
de ir embora
luizacaetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
"À FLOR DA PELE"
Vens breve
como a brisa
quase sempre
à flor do tempo.
Ficas-me no entanto
indelevelmente
à flor da pele...
como pétala de Outono
num gesto de adeus!
ou
um som diáfano
musicado pelo vento!
Vens breve
como os dedos da noite
abandonadamente.
LuizaCaetano
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Solidão Acompnhada, de Luiza Caetano
"PARA O MAIS LONGE POSSÍVEL"
Entrou na estação do trem. Dirigiu-se à bilheteira tendo ficado a olhar os destinos -de forma alheada, inconsequente.
O empregado da bilheteira, depois de a olhar curiosamente de soslaio esperando ela pedir um destino e, supreso pelo silêncio, lhe perguntou - É para onde?
Sem quase levantar os olhos - ela respondeu: é para o mais longe possível. Não importa!
Pagou o bilhete, guardando o seu destino amarrotado na algibeira . Sentou-se esperando o trem chegar. Lá fora o Outono despedia-se num streap tease de folhas bailadas na nostalgia amarela e castanha da brisa. O trem chegou no meio duma baforada de fumo, anunciando sua chegada com estridência. Sobressaltou-se, caminhando lentamente para a sua carruagem com a sensação de estar subindo para o cadafalso.
Entrou, tendo procurado um lugar junto à janela na ideia de que o filme da paisagem ante seus olhos a distraíssem. O trem que até não ía com muita gente, esganiça seu grito de partida e ela se aconchega esquecida do que estava ali a fazer. Para onde ía! Porque partia!
O xanax, entretanto tomado e o ronronar do combóio a mergulharam num sono esquecido e profundo.. Entre o acordar e o adormecer a sua vida apagou um dia e uma noite. Foi acordada pelo bilheteiro que a abanou - Menina, estamos na Estação Central de Paris. Fim da Linha! Ela abre os olhos espantados e patéticamente distantes. - Paris????
Pega na bagagem (um simples par de jeans, um camisolão, uns ténis, 1 tela, 2 pincéis e 4 tubos de tintas) e sai para as Ruas dessa Cidade Luz olhando espantada , acordando memórias de alguns lugares da sua juventude.
Lembrou-se de um hotelzinho em Saint German des Prés. Apanhou um táxi e deixou-se embalar pelas recordações de Paris! Tinha então 20 anos. As mãos cheias de sonhos, as algibeiras vazias e a alma plena de verdes ilusões. Paris! Paris! era nesse tempo o rio para onde todos corriam em busca da cidade cultura, da boémia, da loucura e do amor.
Chegou ao hotel. Pediu um quarto e subiu no elevador velho. Todos os elevadores dos velhos hotéis de Paris.
Abriu a mala, pegou na tela, nos pincéis e ali mesmo no receptáculo do sabonete, deitou as tintas e atacou a tela de forma alucinante. Pintar o quartier Saint Gérmain des Prés? A sua cabeça era uma janela onde a vertigem se instalava num movimento que queria passar à tela.
Não tinha fome! Não tinha sede. Pintou até adormecer.Caíu num sono profundo só despertado pelo pessoal da limpeza.- Onde estou? Que faço aqui? - ergueu-se e os seus olhos se pregaram à tela. Horror!!
- Parecia um campo minado. O fundo era negro e o vermelho escorria como sangue vivo por toda a tela, fazendo pequenas poças.
- Quem pintou este horror?- Meu Deus, será que fui eu quem pintou isto?
Debaixo do chuveiro numa catarse emocional. Suas lágrimas se juntavam à água corrente! Os soluços rebentavam-lhe o peito. - Vestiu-se. Agarrou a mala e saíu para a rua onde a neblina se fechava sobre a sua cabeça em tons húmidos de cinzentos luminosos.
Finalmente, uma fome voraz a fez sentir-se viva. Tomou o café da manhã. Café leite, pão croissants e mais café. Pagou. Apanhou um táxi para o Aeroporto. Na bilheteira pediu um bilhete para Lisboa.
Quando sobrevoava a Cidade branca de Lisboa, entre lágrimas e angústia, pela primeira vez, Sorriu!
O MAIS LONGE POSSÍVEL, ESTAVA AFINAL DENTRO DELA!
luizacaetano13deNovembro2006
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Homenagem dos Grupos Artforum Mundi Planet
& Artforum Brasil XXI & La Maioson D'Art Garjan
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segunda-feira, 29 de setembro de 2008
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Arte e poemas de Luisa Caetano
Barco da Saudade, de Luiza Caetano
a
Florbela Espanca, de Luiza Caetano
Homenagem a Eça de Queiroz, de Luiza Caetano
Pessoa de Lisboa, de Luiza Caetano
Pensamentos de Clarice Lispector
... "estou procurando, estou procurando. Estou tentando me entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o
que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda".(Clarice Lispector)
"Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar".(Clarice Lispector)
"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca".(Clarice Lispector)
"É difícil perder-se. É tão difícl que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo." (Clarice Lispector)
..."estou procurando, estou procurando. Estou tentando me entender.Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda".(Clarice Lispector)
"Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar".(Clarice Lispector)
"É difícil perder-se. É tão difícl que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo."(Clarice Lispector)
"O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós."(Clarice Lispector)
"Porque há o direito ao grito, então eu grito." (Clarice Lispector)
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Conhecimento e Futuro
Academia de Artes e Poéticas "Clarice Lispector"
Planeta, maio de 2008 -Academia de Artes e Poéticas "Clarice Lispector" - "Um espaço não vazio"....
A Academia de Artes e Poéticas "Clarice Lispector", é especial homenagem à escritora Clarice Lispector, nascida em 1920 e falecida em 1977. A literatura brasileira começou a viver uma revolução chamada Clarice Lispector, em sua época. Uma revolução que começou com o seu romance "Perto do Coração Selvagem", e que até hoje respira a alma de Clarice, que por sua vez inspira milhares de pessoas.
Estamos a exatos 12 anos do centenário de nascimento de Clarice e sua poética literária, que continua considerada como única em seu tempo (começo do século XX, quando com apenas 20 anos já manifestava suas posições e militância intelectual a favor da liberdade, dos direitos humanos, e contra a sociedade machista da época.
A obra literária de Clarice Lispector continua inspirando os estudos e teses sobre a alma humana, pois ela escrevia o que sentia, numa literatura existencial, numa prosa poética e urbana cheia de sentimentos intensos.
Clarice nasceu em plena fuga, na Ucrânia. Seus pais eram judeus e fugiam da perseguição religiosa da Rússia. Ela chegou com seus pais ao Brasil aos dois anos. Naturalizou-se brasileira e, com sua inquietude e angústia, transformou a literatura nacional para sempre.
A Academia de Artes e Poéticas "Clarice Lispector", é especial homenagem à escritora Clarice Lispector, nascida em 1920 e falecida em 1977. A literatura brasileira começou a viver uma revolução chamada Clarice Lispector, em sua época. Uma revolução que começou com o seu romance "Perto do Coração Selvagem", e que até hoje respira a alma de Clarice, que por sua vez inspira milhares de pessoas.
Estamos a exatos 12 anos do centenário de nascimento de Clarice e sua poética literária, que continua considerada como única em seu tempo (começo do século XX, quando com apenas 20 anos já manifestava suas posições e militância intelectual a favor da liberdade, dos direitos humanos, e contra a sociedade machista da época.
A obra literária de Clarice Lispector continua inspirando os estudos e teses sobre a alma humana, pois ela escrevia o que sentia, numa literatura existencial, numa prosa poética e urbana cheia de sentimentos intensos.
Clarice nasceu em plena fuga, na Ucrânia. Seus pais eram judeus e fugiam da perseguição religiosa da Rússia. Ela chegou com seus pais ao Brasil aos dois anos. Naturalizou-se brasileira e, com sua inquietude e angústia, transformou a literatura nacional para sempre.
Brasil, maio, 2008
Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector
Nossos sites e fóruns:
http://www.artforumunifuturobrasil.org/
http://www.cidadeartesdomundo.com.br/
http://forumdemulheresdofuturo.zip.net
http://forumculturaldomundo.zip.net
http://lamaisondart-anagarjan.com.br
http://poetaseartistasdomundo.arteblog.com.br/
http://projetoartforumuniversidade.blogspot.com
Arte e Cultura são pólos de Desenvolvimento.
Grupos Artforum Brasil Unifuturo - 2009.
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Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector
Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector
Este espaço é a Primeira Academia Virtual em homenagem à pensadora, escritora e poeta que muito contribuiu com a história da literatura brasileira. Este espaço foi iniciado em maio de 2008, para homenagear a memória da escritora Clarice Lispector, bem como de outros autores e metres da literatura brasileira e internacional. Este espaço cultural, poético e literário foi aberto em maio de 2008, como proposta apresentada no Fórum Internacional de Mulheres do Futuro pela Paz do Planeta.
Brasil, maio de 2008
Grupos ArtForum Brasil XXI
Projeto Universidade Planetária do Futuro
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"Vamos Salvar A terra"
Vídeo by Ana Garjan & Luuh Designer
http://br.youtube.com/watch?v=lxAAWGKJpFU
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