Clarice Lispector

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sábado, 18 de dezembro de 2010

A FORÇA DA ARTE



"Que a força da Arte nos liberte e enalteça!
Que o amor propague o amor, e seja fecundo."


(Staëll Di Lukka)


Sempre que penso na Arte, e em todas as atividades criativas e artísticas, surge-me a idéia de que este "fazer" tem uma potência benigna e transformadora indubitável e inimaginável!... Alegro-me ao pensar que a Arte, em suas múltiplas formas e variações, pode ajudar o ser humano a ser mais feliz, a libertar-se de seus medos, dores e angústias, a encontrar sempre novos caminhos e modos de reinventar a própria existência, experiência e história.

Criar algum tipo de arte faz parte da vida humana de todos os tempos e lugares, e esta prática tem sido sempre benéfica e importante, vital, para a sobrevivência de nossa sensibilidade, para o reencontro constante da alegria, do calor e da cor, do movimento e da liberdade! Criamos quando pensamos, quando falamos, quando nos arriscamos a concretizar sonhos e projetos... e fazemos arte também da própria vida, quando nos permitimos praticar a reinvenção infinda de si e de nosso desejo, de nossas energias, do nosso sentir e pensar, de nossa trajetória...

Literatura, pintura, dança, música, poesia... tantas formas de traduzir o amor à Vida, o anseio pelo Bem, o desejo de harmonia!... Que cada dia e cada hora sejam para nós oportunidades de fazer Arte, de amar e aprender, de buscar dentro e fora de nós a potência criativa, a força e coragem que nos impelem à incessante descoberta da ternura, da fraternidade, das singularidades que nos tornam únicos e preciosos, apesar de nossa pequenez e fragilidade.

Clarice Lispector escreveu sobre a necessidade e possibilidade de descobrirmos o "extraordinário" escondido nas frestas e dobras do cotidiano banal. Ela, como outros artistas e visionários, como outras almas amantes da Vida e da Arte, percebeu que o milagre existe e acontece todos os dias, em cada instante-já, em cada inspiração e expiração, em cada movimento, matiz e pulsação. O milagre acontece o tempo todo, quando existe amor e sensibilidade, candura e compaixão, esperança. Existe quando acreditamos!

Que a vida de cada um/a de nós que participamos deste grupo e trabalho, seja pois um instrumento de propagação e semeadura desta potência: que saibamos descobrir e partilhar a força da Arte e da afeição, e viver o milagre do amor, em todos os dias e estações, sejam quais forem as marés, os tons, os medos ou desejos de cada ser, criativo e pulsante, que sonha e respira sobre este planeta. Que as partículas, frações ou parcelas de amor e arte, luz e alegria, paz e prazer, que cada um puder produzir e propagar, mantenham o universo equilibrado, vivo, cintilante!

Grata pelo convite, pelas palavras, pela amizade, querida Ana Felix Garjan.
Aproveito para desejar Boas Festas, para ti, teus familiares e amigos, e também para as demais pessoas queridas que participam deste espaço poético-criativo. Meus votos de que o Ano Novo seja um tempo de belas e luminosas semeaduras! Beijos e abraços alados para todas/os.

(Ana Luisa Kaminski)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Poesia de Bárbara Lia para Clarice Lispector




LENDO CLARICE LISPECTOR



Mulheres
Sofrem meio às rosas
Espinhos escondidos
Em seus cabelos.
Seios nus
Beijados pelo amado.
Lençóis ao vento.
Vela de um barco
Onde o timão balança
Entre a neve
E a primavera.

Todos sofrem:
A gota prata
Do orvalho na rosa
É lágrima fêmea
Que brilha
Enquanto sofre.

Bárbara Lia
O sal das Rosas
Lumme Editor/2007

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Carta cultural aberta à Sra. Acadêmica Ana Luisa Kamisnki, por Ana Felix Garjan


.
Clarice Lispector. Seu nome e sua obra serão imortalizados também, através da Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector - espaço cultural em honra à sua vida e à sua obra e em homenagem às personalidades culturais que foram e serão convidadas para serem membros - fundadores desse projeto que foi inaugurado em maio de 2008.

Desejamos que em breve tempo surja a academia presenencial, em tributo ao seu pensamento! Para tanto contaremos com a presença e apoio de escritoras, poetas, pintoras e de acadêmicas que são membros de outras academias brasileiras, e que estarão sendo nomeadas como acadêmicas dessa academia especial.

*Carta cultural aberta à Sra. Acadêmica Ana Luisa Kaminski, escrita e registrada nesse blog literário por Ana Felix Garjan, idealizadora do espaço "Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector".

Brasil - 5 séculos, 10 de agosto de 2010
A Ilustríssima Senhora Ana Luisa Kaminski

M. D. Vice - presidente da Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector,

Cordiais Saudações!

Primeiramente expresso aqui meu agradecimento especial pelo seu apoio aos nossos projetos e roteiros metodológicos que desenvolvemos em nome dos Grupos Artforum Brasil Unifuturo, desde outubro de 2008, com sua participação no projeto PAVILLION ARTFORUM, onde suas belas obras de arte estão expostas em nosso perfil no Orkut, no Fórum Internacional de Mulheres do Futuro pela Paz do Planeta e na Revista Artforum Planetária, onde seu nome foi homenageado pela ARTFORUM UNIFUTURO, em 20 de agosto de 2009, na data de seu aniversário natalício.

Estou me preparando para organizar as sínteses de projetos que são baseados no "Nosso Plano Artforum" 2001 – 2010, e o novo Plano Artforum 2011 - 2016. São estudos, pesquisa e projetos que fazem parte da nossa Universidade Planetária do Futuro, que foi prevista em 2000, na mudança do século XX para o XXI e do fantástico III Milênio! Tenho um projeto chamado "Arte Millennia", que inspirou a nossa proposta literária: Primeira Antologia "Cartas ao Futuro" de Mulheres Contemporâneas, que foi lançada em outubro de 2008, em redes sociais, comunidades organizadas no Orkut, e em blogs dos Grupos Artforum UNIFUTURO XXI que administro deste março de 2007.

Trabalho com referências filosóficas e dados históricos que fazem parte de eixos referenciais que motivam a todos nós da Artforum a motivam darmos continuidade aos roteiros metodológicos que são seguidos desde o ano de 1999 - sec. XX, na perspectiva de contribuirmos, também, com o movimento cultural humanista que possa inspirar mais e mais pessoas a se juntarem a nós para contribuírem com a cultura brasileira e internacional. Desejamos na realidade a reunião de pessoas, que como nós, podem estar sintonizadas com a ética humana, com a arte e cultura de Paz, que como nós possuamos credibilidade, sensibilidade, conhecimento e disponibilidade para intercâmbios e parcerias culturais, em prol da arte e poesia da vida.

Estou envolvida em estudos e diálogos com alguns consultores, inclusive com uma grande amiga que mora na França e conhece meu trabalho há mais de 10 anos. Ela é professora em universidades francesas que possuem interesse em intercâmbio com a cultura brasileira através de universidades e outras organizações. Conversamos na data de ontem sobre nossa universidade. Ela é brasileira e cidadã francesa, pois reside na França há mais de 15 anos. Ela, a Sra. Matilde Pereira da Silva está de férias em Paris, nesse mês. Ela é tradutora de livros, possui grande visão cultural e política, e foi convidada para um cargo na Universidade Planetária do Futuro, e será convidada como membro - fundador da Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector!

Em setembro próximo, tempo de primavera, flores e natureza será celebrado os 11 anos dos Grupos Artforum Brasil, através do nosso projeto MAC - Museu de Arte Contemporânea e do Projeto I Bienal Internacional de Artes Visuais. Assim, a partir de hoje estarei com alguns compromissos prioritários, em função da festa de lançamento do livro Antologia de Arte "Cristal de Talentos", de cujo livro nós somos co-autoras. Essa obra foi idealizada pela artista plástica Sra. Adalgisa Marta Machado Cuan.

Esse importante livro de arte será lançado na 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, na próxima semana, e será também lançamento na ABACH – Academia Brasileira de Artes, Ciências e História, no Pólo Cultural Casa da Fazenda do Morumbi, no próximo dia 15 de agosto de 2010, às 19h30min horas.

Ana Luisa, nós já sabemos que você, a escritora e a artista plástica Lara Lunna /Staëll, entre outros co-autores do livro estarão presentes nessa festa cultural em São Paulo. Na noite haverá também a abertura da exposição de arte "Cristal de Talentos", onde nossas obras que estão no livro serão apresentadas ao grande público, no período de 16 a 29 de agosto de 2010 - último ano da primeira década do século XXI.

Nessa noite de eventos culturais importantes serei representada pelo Professor Arthur Jaak Wilfrid Bosmans, vice-presidente da Universidade Planetária do Futuro. Ele é poeta e personalidade cultural de Belo Horizonte - Minas Gerais, e estará presente como co-autor do livro “Cristal de Talentos”.

Fui indicada para receber a insígnia da Medalha Anita Garibaldi, assim como você, Lara Lunna /Staëll, Jaak Bosmans, Zélle Bittencourt e outras pessoas das artes e da literatura. Pessoas indicadas estarão recebendo essas importantes insígnias, que serão concedidas pelo presidente da FALASP - Federação das Academias de Letras e Artes do Estado de São Paulo, o Exmo. Senhor Conde Thiago de Menezes.

Estive em reuniões com amigos pintores e artistas plásticos, para a organização dos projetos Museu de Arte Contemporânea - Arforum Brasil e I Bienal Internacional de Artes Visuais, prevista para 2010 - 2011. Para esses projetos especiais, você e outras convidadas estarão com suas exposições divulgadas através de núcleos e linguagens artísticas.

Serão convidados, a princípio, os nossos convidados que estão no Espaço PAVILLION ARTFORUM. Assim, já contamos com suas obras, as da Lara Lunna Staëll, da Carmem Garrez, da Cristiane Campos, da Luíza Caetano, e outros nomes já convidados desde 2008. E você, Ana Luisa, como uma das curadoras do Departamento de Artes e Exposições da nossa Universidade Planetária do Futuro pode indicar artistas plásticos e pintores para nossos projetos especiais!

Agradeço-lhe a indicação dos atuais nomes da pintora Carmen Garrez, da escritora e poetisa Bárbara Lia e de outros nomes já citados anteriormente através de nossas cartas culturais. Você como vice-presidente da Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector pode continuar a fazer seus convites especiais a pessoas que se interessam em participar e contribuir com a academia e posteriormente com o Centro Cultural Clarice Lispector, onde será aberta a Galeria de Arte Clarice Lispector, onde estarão em exposição obras de arte selecionadas por você, por mim, pela diretora de marketing, e outras pessoas convidadas para a curadoria do Centro Cultural Clarice Lispector.

Caríssima Ana Luisa Kaminski eu deixo hoje, nessa página de registros especiais da Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector, nossas congratulações pela exposição de suas pinturas e as pinturas de Staëll / Lara Lunna, em mostras na Itália, em breve, levadas pela Galeria Spazio Surreale, de SP.

Nesta academia, nos fóruns e blogs culturais dos Grupos Artforum Brasil Unifuturo nós teremos grande honra em divulgar sua mostra na Itália, onde vocês pintoras brasileiras estarão levando, também, o nome da Artforum Brasil Unifuturo, através do nosso roteiro intitulado "Expedições Culturais e Artísticas".

Cordiais saudações e votos de sucesso!

Ana Felix Garjan, Presidente
Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector
anafelixgarjan@gmail.com


ARTFORUM UNIFUTURO XXI
Filosofias, História, Cultura. Arte, Futuro
Cultura Humanista e Defesa do Planeta
*
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*Revista Artforum Planetária:

domingo, 11 de julho de 2010

ARTE E PSICANÁLISE: ENTRE DESMONTAGENS E REARTICULAÇÕES

“Há um grande silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras.”
(CLARICE LISPECTOR, In: Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres).

Não é de hoje que se procura encontrar conexões entre Arte e Psicanálise: já Freud, em seus estudos e escritos, estabeleceu relações entre obra de arte e psicanálise, em se tratando de desmontar e recriar mundos e sentidos. Tania Rivera, no texto “Gesto analítico, ato criador. Duchamp com Lacan”, afirma que “a psicanálise não se debruça sobre a arte como um terreno onde aplicar suas teorias, mas em busca de uma verdade sobre o homem de que as obras literárias e artísticas se aproximariam mais do que a ciência”. A arte, por sua vez, “não procura na psicanálise explicações ou interpretações”, mas talvez uma possa buscar na outra, explorando suas ressonâncias singulares no questionamento contemporâneo sobre o sujeito.(1) Pensando sobre estas conexões, escrevo este texto, no intuito de comparar, aproximar e entrelaçar alguns aspectos destas áreas do conhecimento, tentando apontar para a importância das desmontagens e rearticulações de verdades, signos, idéias e estruturas, propiciadas ao sujeito, pelas práticas da psicanálise e da invenção artística.
No texto “Escritores Criativos e Devaneios” (1908), (2) Freud compreende a obra de arte como substituto do brincar infantil, aproximando o artista ou escritor criativo à criança que, brincando, “cria um mundo próprio reajustando seus elementos de uma forma que lhe agrade, mantendo... uma nítida separação entre seu mundo de fantasia e a realidade”, nos lembra a psicanalista Giovanna Bartucci . No entanto, em “Além do princípio do prazer”, ensaio de Freud de 1920, que termina por estabelecer o conhecido dualismo entre pulsões de vida e pulsões de morte, será essa pulsão de morte, uma vez que não se articula no registro da linguagem, que imporá ao sujeito a necessidade de inscrição no registro da simbolização. A autora observa ainda que, a partir da “necessidade de produzir novos objetos para os circuitos pulsionais, o sujeito realiza rupturas no campo de objetos e símbolos, na visão de mundo constituída, e será exatamente isto que permitirá ao sujeito constituir, construir sua própria realidade de acordo com as leis que eventualmente conheça.” (3)
Esta possibilidade de romper com o óbvio e promover a desestagnação e rearticulação dos sentidos, que tanto acontece na criação artística quanto na prática da psicanálise, parece-me estar relacionada ao que diz Roberto Harari, em Por que Não Há Relação Sexual?, quando aponta a importância de “tentar fazer perceber de modo diferente das associações habituais, mas como algo insólito”, ao discorrer sobre a estranheza e estranhamento, (ostranenie), provocados às vezes pelas obras de arte, e também pelas intervenções analíticas. (4)
Neste livro, Roberto Harari, citando Lacan, lembra que “o intervalo é uma função vigente na direção da cura, de acordo com uma operação regida pela pulsão de morte”. Nesta operação, não se trata de “encher o analisante com novos signos”, diz Harari, mas “sim de confrontar o sem-sentido com a dimensão do vazio”, lembrando que o analista trabalha para promover uma “desconstrução egóica-sígnica”, e afirma ainda que “tanto no discurso literário como no analítico são cruciais os momentos de rareamento, de estranhamento, provocados pela aparição súbita de um significante de efeito inesperado”. (5)
Ainda no livro Por que Não Há Relação Sexual?, Roberto Harari recorre ao conceito de intervalo, e “condição intervalar”, apresentados na obra El Intervalo Perdido, do teórico contemporâneo de arte, o italiano Gillo Dorfles, para falar sobre a importância deste “tempo de separação entre elementos”, e relacionar as idéias de Dorfles à prática da psicanálise. Segundo Dorfles, teria acontecido um desaparecimento dos “intervalos” ou da “condição intervalar”, a partir da modernidade, o que poderia ser relacionado ao “horror vacui” presente em vários âmbitos da cultura e civilização contemporâneas. O italiano Dorfles observa a importância destes “espaços intervalares” em todas as manifestações artísticas e literárias, ao longo da história humana, e de sua ligação com o inacabamento, a fragmentaridade, o silêncio, o estranhamento...(6) Esse aspecto de separação, pausa, interrupção, capaz de fazer ressaltar determinados elementos – não só no terreno artístico – evocado por Dorfles e citado por Harari, ou seja, o conceito de “intervalo”, usado pelo teórico italiano, pode ser relacionado também à prática psicanalítica, onde os “procedimentos intervalares” permitem que o analista introduza diastemas (intervalos) inesperados que convocam à estranheza... “...um golpe do real”, capaz de provocar a “des-localização” do sujeito. Seria esta intervenção algo como um “corte”, através do qual pode emergir um plus, e acontecer alguma transformação.(7)
Giovanna Bartucci , ainda escrevendo sobre as relações entre arte e psicanálise, observa que o jogo de palavras não é mero artifício retórico, mas uma tentativa de recolher, dar forma e instaurar algum sentido para este tempo, que para além (ou aquém) da linguagem, é ele mesmo um tempo necessário, “um tempo que permite a emergência de um sujeito a partir deste corte, desta fenda, deste rombo, desta cratera, desta violência amorosa e necessária” que nós humanos denominamos falta. Assim, diz ela, é que “tanto a experiência psicanalítica, concebida como lugar psíquico de constituição de subjetividade” .... “quanto a arte, encontram na inscrição da pulsão no registro da simbolização e sua reordenação do circuito pulsional uma economia outra que possibilite o trabalho de criação, produção e ligação de sentidos, para “aqueles sujeitos cujos destinos como sujeitos será sempre o de um projeto inacabado, produzindo-se de maneira interminável”.(8)

Penso que podemos aproximar e entrelaçar estas idéias com as de Harari, bem como a noção de “intervalo” usada por Dorfles, a outros conceitos ligados à arte, literatura e psicanálise, uma vez que parecem evocar ou convergir para a “falta”, a “castração” necessária para que o sujeito possa emergir como desejante. A noção de “intervalo” como um “espaço vazio”, de pausa, silêncio, corte, abertura, parece dialogar também com as idéias de Michel Foucault e Maurice Blanchot sobre a linguagem e a arte, quando se trata de pensar neste espaço como o lugar do vazio, da morte, do nonsense, do neutro, do silêncio, da desaparição, mas, também, como possibilitador de movimento, de emergência e rearticulações de verdades e sentidos, de abertura para a reinvenção incessante do sujeito, a partir do encontro impactante com o “real”.
O texto “O pensamento do exterior”, escrito em 1966 por Michel Foucault, aborda o espaço vazio da linguagem, e fala sobre uma “experiência do fora”, que seria a abertura de um espaço neutro, onde a linguagem se escoa sem se configurar e sem nada configurar, oscilando entre o fora da origem e da morte, infinitamente a se repetir, sempre a recomeçar. Lúcia Oliveira Santos, em seu texto “O Ser da Linguagem, a Escritura e a Morte”, tece relações e encontra ressonâncias entre idéias de Blanchot e Foucault, observando que “é neste espaço – o espaço literário onde o sujeito se desfaz, o mundo é suprimido, o ser se dissimula, a obra tende à sua desaparição – que se dá a experiência da linguagem como escritura.” Esta autora lembra que neste texto de Foucault, uma homenagem do mesmo a Blanchot, aparecem estas idéias sobre a linguagem em sua relação com a morte, e a constituição do espaço literário como o “espaço neutro e vazio da linguagem”. (9)
No livro As palavras e as coisas , Foucault lembra que a linguagem moderna não remete nem a Deus nem ao homem, mas ao espaço vazio que é ela própria e, retomando idéias de Blanchot, diz que a literatura se dá como experiência da morte, do pensamento impensável (e na sua presença inacessível), como experiência da finitude...(10) Lúcia Oliveira Santos observa ainda que, tanto para Blanchot quanto para Foucault, a literatura não representa o mundo nem cria nele, mas o faz desaparecer, pois ela só existe a partir desta ausência, do vazio e do rumor que ainda perduram após o homem se dar conta do nada e da morte.(11) E, deste espaço neutro e vazio, onde se afirma a impossibilidade e a ausência de sentido, a desaparição das coisas e daquele que escreve, onde o escrever deixa de se abrigar num horizonte estável para ser tornar atividade de ruína, surge a escritura, a arte, a possibilidade de desmontagens e rearticulações incessantes de sentidos, a partir do encontro com o vazio que permite as reconstruções.
No conto “Amor”, em Laços de Família, de Clarice Lispector (12), como em outros textos clariceanos, podemos encontrar estas “aberturas” para um “espaço vazio”, silencioso e informe, indomesticável, que lembra o espaço neutro abordado por Blanchot. A escritura clariceana abre a brecha por onde vaza esta sensação de plenitude do não-sentido, permitindo a passagem tanto de personagens quanto de leitores para o estranho existente sob a crosta do cotidiano banal. Segundo Nádia B. Gotlib, em Clarice Lispector o exercício da linguagem funciona como exercício de “nomear o não-nomeável, e instrumento de “tocar no ponto que não é tocável(13). E, segundo Benedito Nunes, percebe-se nas obras clariceanas a tentativa de “dizer a coisa sem nome, descortinada no instante do êxtase, e que se entremostra no silêncio intervalar das palavras” : o sentido do real só é atingido quando a linguagem fracassa em dizê-lo.(14)
No conto “Amor”, de Lispector, a protagonista sente-se perturbada e estranha ao estar sozinha em casa, na “hora perigosa da tarde”, quando percebe em si o que chama de “desordem íntima”(15). Sua saída da rotina, quando resolve dar uma volta, acaba provocando uma espécie de ruptura em seu percurso, ou um desvio de sua rota banal, quando uma série de pequenos acontecimentos, aparentemente insignificantes, provocam nela certa perturbação e estranhamento, como o riso e o olhar do cego, que não a vê, o pacote de ovos quebrados, o chacoalhar do bonde, o passeio pelo Jardim Botânico, o encontro com os bichos, o silêncio, o cheiro de vida e de morte... É neste contexto que parece abrir-se uma fenda em seu cotidiano domesticado e banal, e algo aparece, algo inumano, incapturável, ao mesmo tempo assustador e fascinante. E, nestes pequenos desvios de rota, nestes acontecimentos que interrompem a linearidade de seu cotidiano ordenado - nestes intervalos, cortes, aberturas - surgem as sensações conflituosas do ser, entre fascínio e horror, diante do mistério do amor, da vida, da morte e do vazio.


Estas fendas no cotidiano da personagem clariceana fazem pensar nos intervalos, espaços vazios, já mencionados nos textos teóricos de Roberto Harari, e outros citados até aqui. Neste ponto, poderíamos arriscar uma aproximação entre o conceito de “intervalo” trabalhado por Dorfles, o teórico das artes, evocado pelo psicanalista Harari, ao conceito de “espaço vazio e neutro” desenvolvido por Maurice Blanchot, ao referir-se à literatura. Este espaço neutro, este intervalo, também pode ser entendido ou visto como uma abertura, uma “porta de passagem”, para usar palavras do próprio Blanchot, sendo que a mesma possibilitaria o encontro ou vislumbre do vazio, do horror do real. Segundo Blanchot, a linguagem está sempre pronta a passar do “tudo ao nada”, nos lembrando da dissolução. Já a teórica Júlia Kristeva, autora de Sol Negro, depressão e melancolia, afirma que as “construções ficcionais dão testemunho do hiato, branco ou intervalo que é a morte para o inconsciente.”(16) Lacan, por sua vez, no Seminário, livro 7, fala da “Coisa” fundadora do desejo, do vazio no centro do real, da falta comum a todos, de Das Ding, que escapa à significação e é indizível... (17)
No texto Água Viva, Clarice Lispector escreve: “Ouve-me, ouve meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa.”... “Capta esta outra coisa que na verdade falo porque eu mesma não posso. Lê a energia que está no meu silêncio. Ah, tenho medo de Deus e do meu silêncio.”(18) Retomando as noções trazidas até aqui, do intervalo entendido como espaço vazio, neutro, de silêncio e ruptura, de dissolução e morte, abertura, podemos pensar neste eco e oco silencioso das palavras, da escrita, da fala, como o próprio eco do vazio, como um lugar de incerteza onde se desmontam as verdades do eu, do sujeito condicionado em seus comportamentos repetitivos e rígidos. Todavia, é a partir do próprio confronto com o nada, com o vazio, num momento de corte e intervalo, que pode acontecer a desmontagem da repetição, a interrupção da fixidez, tanto através da prática da psicanálise, quanto do fazer artístico.
Segundo Lacan, a arte caracteriza-se por um certo modo de organização em torno do vazio, e tem como combustível esse vazio. Sandra Autuori, em seu texto “LACAN E A ARTE: catando migalhas”, lembra que, antes do que é escrito pelo autor, o que se tem é um papel vazio; do pintor, uma tela em branco, do escultor um nada. Há um nada antes da criação artística. Um nada que incomoda, que pulsa e insiste. Porém, quando a obra acaba, vira um resto, algo que não deu conta de dizer a que veio, e continua sempre faltando algo, o que parece levar o artista a nunca parar de criar, sempre outras obras. De acordo com Lacan, o objeto artístico “é instaurado numa certa relação com a Coisa que é feita simultaneamente para cingir, para presentificar e para ausentificar”. A arte presentifica a ausência, expõe a falta, é o resto exposto que faz restar.(19)

Em Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, Clarice Lispector diz: “Nós, os que escrevemos, temos na palavra humana, escrita ou falada, grande mistério que não quero desvendar com meu raciocínio que é frio. Tenho que não indagar do mistério para não trair o milagre. Quem escreve ou pinta ou ensina ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagre todos os dias.” (20) E, em seu livro O Prazer do Texto, Roland Barthes escreve: “Texto quer dizer tecido; mas enquanto até aqui esse tecido foi sempre tomado por um produto, por um véu acabado por trás do qual se conserva, mais ou menos escondido, o sentido (a verdade), nós acentuamos agora, no tecido, a idéia generativa de que o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido — nessa textura — o sujeito desfaz-se, como uma aranha que se dissolve a si própria nas secreções construtivas de suas teias”. (21)
Sandra Autuori lembra que, para Lacan, o belo é o último véu que nos protege do real. É um ponto de transposição. Porém, mesmo sendo uma última rede de proteção ao real, há uma exposição a ele e, portanto, o belo na arte sustenta o desejo, ao provocar enternecimento. A arte produz um efeito de regozijo em quem a olha. Este é um efeito singular no sujeito, efeito indizível, intraduzível, intransmissível em totalidade e que, por isso mesmo, comporta o furo do real.(22) Contudo, como aponta Xavier G. Ponce, a arte pode ir além do belo, e alcançar o sublime, um termo literário associado ao êxtase e à criação poética. O sublime, além de encantar, como o belo, pode ligar-se ao além do princípio do prazer, quando acontece uma experiência de dilaceração, criando assim um contraponto entre o encanto e o horror provocados pela obra de arte. Ponce descreve o advento da arte moderna como sendo o de instalar uma tensão entre a experiência de satisfação através do belo que encanta e a comoção proporcionada pela experiência do sublime. (23) Vários autores já sublinharam que a arte do século XX e a psicanálise, por terem nascido na mesma época, compartilham um mesmo “espírito”, que dividiu o sujeito definitivamente, porém, Ponce vai além disso ao propor que, com o divórcio entre a imagem e o sentido que ocorre na arte moderna, há uma quebra entre a obra de arte, o artista e o espectador, que é olhado pelo objeto artístico, sem que possa lançar mão de um sentido protetor.
Neste ponto, podemos pensar neste estranhamento provocado pela arte, bem como pelas intervenções psicanalíticas, como algo que provoca uma fratura ou o estilhaçamento do eu, a ruptura que permite a emergência do sujeito do desejo, ao propiciar a saída da fixidez do circuito pulsional, promovendo movimento e circulação do desejo, ao instigar o sujeito a produzir algo que o salve do abismo, sejam novas ligações de significantes, sejam rearticulações de sentido, através do rearranjo de seus pedaços e restos, de elos que possam sustentar sua frágil estrutura psíquica, e seu desejo. Assim, arte e psicanálise estão a serviço desta desmontagem do eu, ao mesmo tempo em que, por meio de seus cortes, abrem brechas, fissuras, pequenas fendas para o encontro do sujeito com o real, com das Ding, com o indizível, promovendo as sacudidelas necessárias à reinvenção constante de si e de suas verdades e percursos.
Na fase final do ensino lacaniano, a arte é entendida como quarto elo, ou seja, como algo que possibilita a amarração entre os outros elos do nó borromeano: o imaginário, o simbólico e o real. No Seminário 23, O Sinthoma, Lacan demonstra a importância de que um quarto laço venha realizar a função de manter o enlace entre os registros, como também delimitar a necessária distinção entre eles. De acordo com Lacan, este quarto elo, a arte, evitaria que o sujeito se perdesse no delírio psicótico, na invasão do imaginário. A partir do estudo da escrita de Joyce, Lacan fica “embaraçado” ao perceber que o escritor trabalhava diretamente no real da letra, a partir de novos sentidos que eram construídos, mesmo não sendo estes muito compartilháveis, e deste trabalho, extraía seu gôzo. (24) Neste caso, Lacan observa que foi a obra, a escrita literária, que funcionou como elo capaz de sustentar a estabilidade psíquica de Joyce, evitando o surto psicótico. Contudo, não apenas a partir da obra, mas do reconhecimento público e da valorização da mesma que lhe adveio, o escritor pôde manter seu equilíbrio psíquico, escrevendo seu nome como sujeito, acredita Lacan. A este quarto elo, Lacan chamou de sinthoma.
A psicanalista Maria Lídia Arraes Alencar, no texto “A escrita de Joyce como suplência da psicose”, diz que “ao tomar o exemplo da obra de Joyce como paradigma, Lacan reconhece no seu trabalho de desmontagem da língua inglesa, um ato de tomar as palavras ao nível de lalangue, de fazer da letra, enquanto lixo, parasito, um rio corrente sonoro, ao deixar-se invadir por sua polifonia, seguir o fluxo indecidível entre o fonema, a palavra e a frase, produzindo um escrito para não ler. Promove, desse modo, um curto-circuito no sentido usual das palavras, usando um tipo especial de equívoco, e, além dos efeitos que causou na literatura, serviu-se de sua arte como suplência à psicose”(25).

A partir da escrita sinthomática de Joyce, que faz Lacan avançar em suas teorias sobre o tratamento das psicoses, formulando novas visões e perspectivas, a arte, neste momento da teoria lacaniana, assume a função de amarrar o simbólico, o imaginário e o real, proporcionando certo arranjo, mesmo que bastante singular, da subjetividade, nos lembra Sandra Autuori. (26) A partir daí, podemos pensar nas relações entre as desmontagens e rearticulações de sentidos ou estruturas propiciadas pela prática da psicanálise e do fazer artístico, ao provocarem o encontro do sujeito com o vazio, mas, também, a partir destes intervalos, sustos, comoções e sobressaltos, passando pelas aberturas ou furos nos encontros com o real, propiciarem as reinvenções do próprio sujeito, possibilitando que, por um lado se mantenha a falta, que é condição para o exercício da subjetividade e, por outro, garantindo uma atribuição de potência ao sujeito, permitindo que ele não se perca nesta falta.
Doris Rinaldi, no texto “Joyce e Lacan: algumas notas sobre escrita e psicanálise”, observa que, com sua arte, Joyce inventa, a partir de pedaços de real que retornam nas epifanias e palavras impostas, uma escrita que faz um nome, enquanto Lacan sustenta no Seminário 23 sua própria invenção – a invenção do real. De acordo com esta autora, nesta fase final do seu ensino, Lacan tenta escrever o próprio sinthoma, marcando a importância de uma maior investigação da escrita (27). Neste ponto, já não importa o produzir sentido, e sim, o efeito de sentido, o saber-fazer com lalangue. Disso tudo, podemos ao menos concluir, provisoriamente, que, apresentando o Sinthoma como uma “escrita de gôzo”, Lacan dá novo estatuto a uma invenção que permite transformar lixo em letra, em luxo, ou transformar restos, traços e fragmentos em uma forma peculiar de prazer, de saber-fazer, a escritura, a arte.


*TEXTO DE ANA LUISA KAMINSKI, apresentado na Jornada Interna da Maiêutica, em Florianópolis, SC, em 10 de julho de 2010


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

(1) RIVERA, Tania. “Gesto analítico, ato criador. Duchamp com Lacan”. In: PULSIONAL Revista de Psicanálise, ano XVIII, no. 184, dez/2005, p. 65
(2) FREUD, Sigmund. “ Escritores Criativos e Devaneios”. In: Obras Completas de Sigmund Freud. Imago Editora, RJ, 1977, VOL. IX
(3) BARTUCCI, Giovanna. “Sublimação e processos de subjetivação: entre a psicanálise e a arte”. Psicanalítica freudiana, escritura borgeana: espaço de constituição de subjetividade. In: Cid, Marcelo; Montoto, Claudio César. Borges Centenário. São Paulo, EDUC, 1999.
(4) HARARI, Roberto. Por Que Não Há Relação Sexual? Organizadores: Carlos A. M. Remor et Al. José Nahar Ed., RJ, 2006, p. 135
(5) IDEM, Ibidem, p. 137.
(6) IDEM, Ibidem, p. 124 e 125.
(7) IDEM, Ibidem, p. 137.
(8) BARTUCCI, Giovanna. “Sublimação e processos de subjetivação: entre a psicanálise e a arte”.
(9) SANTOS, Lúcia de Oliveira. “ O Ser da Linguagem, a Escritura e a Morte : ressonâncias Foucault/Blanchot. Texto apresentado no X CONGRESSO ABRALIC, no RJ, 2006.
(10) FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: MartinsFontes, 1987.
(11) SANTOS, Lúcia de Oliveira. “ O Ser da Linguagem, a Escritura e a Morte : ressonâncias Foucault/Blanchot
(12) LISPECTOR, Clarice. Laços de Família. RJ: Francisco Alves Editora, 1993
(13) GOTLIB,Nádia Batella. “Um fio de voz: Histórias de Clarice”. In Paixão Segundo GH (edição crítica). Clarice Lispector. Florianópolis, Ed UFSC, 1988,p.161
(14) NUNES, Benedito. Introdução do Coordenador, In Paixão Segundo GH. Clarice Lispector. EdUFSC, 1988, XXVII-XXVIII
(15) LISPECTOR, Clarice. Laços de Família. RJ: Francisco Alves Editora, 1993
(16) KRISTEVA, Júlia. Sol Negro: depressão e melancolia. RJ, Rocco, 1989, p. 31
(17) LACAN, J. O Seminário, livro 7: a ética da psicanálise, p. 149
(18) LISPECTOR, Clarice. Água Viva. Ed. Círculo do Livro, 1973, p. 33.
(19) AUTORI, Sandra. “LACAN E A ARTE: catando migalhas”.
(20) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Ed. Rocco, 1998, p. 92.
(21) BARTHES, Roland. O Prazer do Texto. Ed. Perspectiva,SP, 1977, p.112
(22) LACAN, J. O Seminário, livro 7 , p. 302
(23) PONCE, Xavier Giner. “Sobre parejas modernas: el espectador y la obra del arte”. Site na internet.
(24) LACAN, O Seminário, livro 23, O Sinthoma. Jorge Zahar Ed. Ltda, RJ, 2007(1975). CD ROOM.
(25) ARRAES ALENCAR, Maria Lídia. “A escrita de Joyce e a suplência na psicose”.
(26) AUTUORI, Sandra. “LACAN E A ARTE: catando migalhas”.
(27) RINALDI, Doris. “Joyce e Lacan: algumas notas sobre escrita e psicanálise.”. In: PULSIONAL Revista de Psicanálise.Ano XIX, no 188, DEZ/2006

quarta-feira, 31 de março de 2010

Exposição "Arte-Palavras de Clarice Lispector"

Exposição de fotos e pensamentos
de Clarice Lispector
 
 (fotos e pensamentos pesquisadas na internet)

Hoje, dia 31 de março, é o último dia da programação "Mês Internacional Artforum Mulher Inovatus" e "A Mulher são Muitas", cujos roteiros foram programadas pelo Fórum Internacional de Mulheres do Futuro pela Paz do Planeta - Ano III, onde foi idealizada a Academia de Artes e Letras "Clarice Lispector",que também está registrando três anos de publicação.

O espaço Academia de Artes e Poéticas  Clarice Lispector é uma homenagem dos Grupos Artforum Brasil à sua genialidade filosófica, cultural e literária.



"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento".

Biografia:
Clarice Lispector (Tchetchelnik Ucrânia 1925 - Rio de Janeiro RJ 1977) passou a infância em Recife e em 1937 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em direito. Estreou na literatura ainda muito jovem com o romance Perto do Coração Selvagem (1943), que teve calorosa acolhida da crítica e recebeu o Prêmio Graça Aranha. Em 1944, recém-casada com um diplomata, viajou para Nápoles, onde serviu num hospital durante os últimos meses da Segunda Guerra. Depois de uma longa estada na Suíça e Estados Unidos, voltou a morar no Rio de Janeiro.

Entre suas obras mais importantes estão as reuniões de contos A Legião Estrangeira (1964) e Laços de Família (1972) e os romances A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977). Clarice Lispector começou a colaborar na imprensa em 1942 e, ao longo de toda a vida, nunca se desvinculou totalmente do jornalismo. Trabalhou na Agência Nacional e nos jornais A Noite e Diário da Noite. Foi colunista do Correio da Manhã e realizou diversas entrevistas para a revista Manchete.

A autora também foi cronista do Jornal do Brasil. Produzidos entre 1967 e 1973, esses textos estão reunidos no volume A Descoberta do Mundo. Sobre Clarice, escreve a crítica francesa Hélène Cixous: "Se Kafka fosse mulher. Se Rilke fosse uma brasileira judia nascida na Ucrânia. Se Rimbaud tivesse sido mãe, se tivesse chegado aos cinqüenta. (...). É nessa ambiência que Clarice Lispector escreve. Lá onde respiram as obras mais exigentes, ela avança. Lá, mais à frente, onde o filósofo perde fôlego, ela continua, mais longe ainda, mais longe do que todo o saber".

 "Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite".

"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso
edifício inteiro".


"Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja".


Meu Deus, me dê a coragem

Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços meu pecado de pensar.

Clarice Lispector



"O que eu sinto eu não ajo.


O que ajo não penso.

O que penso não sinto.

Do que sei sou ignorante.

Do que sinto não ignoro.

Não me entendo e ajo como se entendesse".
Clarice Lispector

                        
                      

Dá-me a tua mão
Dá-me a tua mão:

Vou agora te contar

como entrei no inexpressivo

que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei

naquilo que existe entre o número um e o número dois,

de como vi a linha de mistério e fogo,

e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,

entre dois fatos existe um fato,

entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam

existe um intervalo de espaço,

existe um sentir que é entre o sentir

- nos interstícios da matéria primordial

está a linha de mistério e fogo

que é a respiração do mundo,

e a respiração contínua do mundo

é aquilo que ouvimos

e chamamos de silêncio.



Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre.

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Brasil, 31 de março de 2010 - Século XXI

Grupos Artforum Brasil Unifuturo
Coordenação: Ana Felix Garjan
http://www.artforumunifuturobrasil.org/

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher e reinício dos trabalhos da Academia

Academia de Artes e Letras Clarice Lispector
Fotos da escritoras pesquisadas na internet.

Hoje, dia 8 de março de 2010, no Dia Internacional da Mulher, retornamos às atividades de Academia de Artes e Poéticas "Clarice Lisprctor", em sua homenagem, e para reiniciamos os convites às escritoras, poetisas e artistas plásticas que serão convidadas como membros fundadoras desse projeto importante, cujo objetivo maior é organizar a Academia de Artes e Poéticas "Clarice Lispector", de forma real.

Nossas homenagens a algumas mulheres, entre tantas, que contribuiram e contribuem com a nossa sociedade planetária, nas diversas áreas do conhecimento como as artes, letras, ciências e demais áreas do conhecimento. Em síntese queremos destacar:

...Mayana Zatz, Marilena Chauí, Nélida Pinõn, Lygia Fagundes Telles, Adélia Prado, Lya Luft, Danuza Leão, Bibi Ferreira, Regina Duarte, Fernanda Montenegro, Tonia Carrero, Ana Botafogo, Márcia Haydée, Vera Fischer, Gal Costa, Maria Bethânia, Cristhiane Torloni, Sônia Braga, Benedita da Silva, Maria Erundina, Carla Camurati, Fafá de Belém, Marina Silva, Daiane dos Santos, e outras...

Uma referência e homenagem à Margareth Mee, pintora inglesa que pesquisou por muitos anos a flora da Amazônia, e deixou no Brasil uma importante e preciosa contribuição ao Brasil. Ela fêz expedições, ao Pico da Neblina, em 1967, às margens do Rio Negro, e pintou a bela natureza amazônica-brasileira. (Em nossa pesquisa, muitos outros nomes estão pautados)

Homenagem à mulheres que foram importantes para a cultura do nosso país, e que fizeram história no panorama cultural brasileiro. Algumas delas aonda estão vivas nessa data.

Homenagem especial
Bertha Lutz, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Maria Clara achado, Maria Della Costa, Lygia Clark, Lina Bardi, Maria Tereza Goulart, Maria Esther Bueno, Dercy Gonçalves, Rachel de Queiroz, Martha Rocha, Elis Regina, Carolina Maria de Jesus, Irmã Dulce, Cora Coralina, Nise da Silveira, Eva Nill. (Em nossa pesquisa, muitos outros nomes estão pautados e serão divulgados na pesquisa de Ana Felix Garjan).

Algumas datas e dados importantes sobre "Mulheres brasileiras do século XX":

Em 1914 - A jovem Eugênia Moreira se torna, aos dezesseis anos, a primeira repórter do Brasil;
Em 1917 - Anita Malfati expõe em uma mostra que antecedeu a "Semana de Arte Moderna", em 1922;
Em 1917 - A professora feminista Leolinda Daltro lidera uma passeata a favor do direito ao voto pelas pelo ao voto, pelas mulheres brasileiras;
Em 1918 - Maria José de Castro Rabelo Mendes é a primeira Diplomata do Brasil;
Em 1918 - A bióloga Bertha Lutz publica em Revista, uma carta em que divulga a organização de uma associação de mulheres pela independência e pelo voto feminino;
Em 1919 - É construído um busto em homenagem a Clarice Índio do Brasil, que morreu vítima de violência urbana, no Rio de Janeiro;
Em 1919 - A ativista Elvira Boni Lacerda lidera a greve das costureiras no Rio;
Em 1922 - A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino do país é fundada e realiza o I Congresso Internacional Feminista, no Rio de Janeiro;
Em 1927 - Celina Guimarães Viana se torna a primeira eleitora, no Rio Grande do Norte;
Em 1933 - Almerinda Farias Gama é a primeira mulher a votar na eleição dos representantes classistas para a Assembléia Nacional Constituinte;
Em 1938 - Maria Bonita, a mulher de Lampião, morre em confronto com a polícia;
Em 1944 - Um grupo de enfermeiras segue para Nápoles na Segunda Guerra Mundial;
Em 1947 - Elisa Branco, ativista da Federação de Mulheres, é presa por causa de sua atuação nas campanhas contra a carestia da época;
Em 1950 - A operária e militante Angelina Gonçalves é morta a tiros pela polícia durante manifestação da Campanha O Petróleo É Nosso, no dia 1º de maio;
Em 1950 - É fundada a Associação Brasileira de Mulheres Médicas;
Em 2000 - Tem início, no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), o Centro de Estudos do Genoma Humano, coordenado pela geneticista Mayana Zatz.


Brasil, 08 de março de 2010
Ana Felix Garjan, socióloga e pesquisadora em arte.
Grupos Artforum Brasil Unifuturo - 10 anos

Fórum Internacional de Mulheres do Futuro pela Paz do Planeta
http://forumdemulheresdofuturo.zip.net/
.
Fórum Cidade Artes do Mundo;
http://forumculturaldomundo.zip.net/

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O tempo conta. O tempo encanta.

O tempo conta, a vida passa e a arte nos aproxima.

A Academia de Artes e Poéticas "Clarice Lispector" retorna em fevereiro de 2010, para dar continuidade aos seus roteiros, matérias e pesquisas sobre a obra de Clarice Lispector, e para apresentar novas poetas, escritoras e artistas plásticas convidadas para fazeram parte do quadro de fundadoras da Academia em homenagem à Clarice Lispector, através de matérias, textos, poemas e exposições de arte nesse espaço que promove, também, homenagens às sócias-fundadoras convidadas por sua coordenação.

Em março de 2010, o nosso Projeto Academia Clarice Lispector completará três anos, nesse último ano da primeira década do século XXI. Nosso objetivo atual é a organização do quadro de sócias - fundadoras, através deste blog, para que nosso projeto Associação Cultural "Academia de Letras, Artes e Ciências Clarice Lispector", possa se tornar uma realidade. Que a sede da Academia possa ser no Rio, em São Paulo ou em outra cidade onde possamos ter o apoio de universidades, secretarias de cultura, institutos de psicologia, filosofia e outras organizações de arte, poesia, literatura e ciências humanas.

Brasil, 03 de fevereiro de 2010
Ana Felix Garjan

Coordenadora do Projeto Academia
Visite a Academia Majestade Arte-Poesia do Mundo
http://academiamajestadeartepoesiadomundo.blogspot.com/

Mirabilis

Mirabilis
Artforum Brasil XXI

Academia de Artes e Poéticas "Clarice Lispector"

Planeta, maio de 2008 -Academia de Artes e Poéticas "Clarice Lispector" - "Um espaço não vazio"....

A Academia de Artes e Poéticas "Clarice Lispector", é especial homenagem à escritora Clarice Lispector, nascida em 1920 e falecida em 1977. A literatura brasileira começou a viver uma revolução chamada Clarice Lispector, em sua época. Uma revolução que começou com o seu romance "Perto do Coração Selvagem", e que até hoje respira a alma de Clarice, que por sua vez inspira milhares de pessoas.

Estamos a exatos 12 anos do centenário de nascimento de Clarice e sua poética literária, que continua considerada como única em seu tempo (começo do século XX, quando com apenas 20 anos já manifestava suas posições e militância intelectual a favor da liberdade, dos direitos humanos, e contra a sociedade machista da época.

A obra literária de Clarice Lispector continua inspirando os estudos e teses sobre a alma humana, pois ela escrevia o que sentia, numa literatura existencial, numa prosa poética e urbana cheia de sentimentos intensos.

Clarice nasceu em plena fuga, na Ucrânia. Seus pais eram judeus e fugiam da perseguição religiosa da Rússia. Ela chegou com seus pais ao Brasil aos dois anos. Naturalizou-se brasileira e, com sua inquietude e angústia, transformou a literatura nacional para sempre.

Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector

Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector
Este espaço é a Primeira Academia Virtual em homenagem à pensadora, escritora e poeta que muito contribuiu com a história da literatura brasileira. Este espaço foi iniciado em maio de 2008, para homenagear a memória da escritora Clarice Lispector, bem como de outros autores e metres da literatura brasileira e internacional.

Este espaço cultural, poético e literário foi aberto em maio de 2008, como proposta apresentada no Fórum Internacional de Mulheres do Futuro pela Paz do Planeta.

Brasil, maio de 2008
Grupos ArtForum Brasil XXI
Projeto Universidade Planetária do Futuro
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Fórum Internacional de Mulheres do Futuro pela Paz.

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"Vamos Salvar A terra"
Vídeo by Ana Garjan & Luuh Designer

http://br.youtube.com/watch?v=lxAAWGKJpFU